A grande questão do design thinking está no feeling!

Postado em: 07 / 07 / 2010

  
Ronald participa de congresso sobre design em Vancouver

Ronald participa de congresso sobre design em Vancouver

 

 Ronald Kapaz

“Quem não entende um olhar, muito menos entenderá uma longa explicação.” Provébio Árabe

Velocidade, complexidade, competitividade, diversidade e ansiedade são traços visíveis deste nosso admirável mundo novo. Somos todos convocados, de forma acelerada, a contemplar alternativas crescentes, atribuir valores, escolher e decidir diversas vezes ao dia. Em cada decisão desenhamos uma vida, uma jornada, uma história e uma identidade, deixando nossa marca no mundo.

Essa obra coletiva é o que chamamos de espírito de um tempo. Zeitgeist.

Culturas são definidas, ao longo da história, pelos grandes agentes sociais. As corporações são hoje esses núcleos em torno dos quais organizamos nossas vidas, crescemos como indivíduos e como grupo e desenhamos a sociedade em que desejamos viver e sermos felizes.

Reconhecemos essas corporações pela forma como elas deixam suas marcas na sociedade, provocando nossa atenção, interesse e afeto. Em um cenário de informação e competitividade globalizada, essas corporações passaram a ter de enfrentar o dilema de conviver com o diferente se tornando cada vez mais parecidas.

Assim, inovação passou a ser um mantra inquestionável, reflexo dessa dinâmica de supervalorização do “novo” como a única expressão possível da qualidade e da identidade, ainda que efêmera.

Tendências são perseguidas por perdigueiros de oportunidades de negócios, em uma corrida desenfreada para “chegar antes” ao coração do comportamento do “consumidor”. Antecipar, antever, prever, prover.

Sofisticamos a qualidade do queijo, deixando intacta a lógica da ratoeira.

Run, Forrest, run!!!

Em evento de design em Vancouver, Ronald falou sobre o design thinking

Ronald falou sobre o design thinking em congresso sobre design em Vancouver

E então me pergunto: qual é o papel do design nesse contexto? Estamos diante de um problema de forma ou será um problema de conteúdo que temos a enfrentar, quando convidados a usar nossa sensibilidade e talento para transformar o mundo na direção de um mundo melhor?

O mundo dos negócios percebeu algo de especial em nossa forma de solucionar problemas, algo inexplicável e “misterioso”. Livros começam a ser escritos sobre o tal do “Design Thinking”, a maneira como pensa um designer, que vira uma nova disciplina.

Escolas de administração e negócios começam a ensinar executivos a “pensar fora da caixa”, a pensar como designers, ao mesmo tempo em que empresas começam a convidar designers para seus conselhos ou para ocupar seus altos cargos de gestão, para serem seus CEOs.

O que isto quer dizer?

Pensamos diferente?

Convidado a debater sobre este tema em um Congresso Internacional de Design e Negócios, em Vancouver, com o tema “Design Currency – O Valor do Design”, procurei refletir e oferecer uma visão construída na prática de 30 anos de relação com as necessidades, os anseios e a visão que nos chega do mundo das marcas e das corporações.

E então, pensamos diferente?

Percebi então que a grande questão do “Design Thinking” não está no “Thinking”, mas no “Feeling”! Não pensamos diferente, mas não só pensamos. Nós, designers, também sentimos.

Desde quando o iluminismo e o cientificismo passaram a ditar nosso comportamento e a razão passou a ser a nova religião do mundo moderno, talvez tenhamos, homo sapiens, nos esquecido de preservar nossa capacidade de “entender” o mundo também através de nossa sensibilidade.

“Intelligence is quickness in seeing things as they are”  George Santayana The Life of Reason: Reason in Common Sense.

Centro de convenções em Vancouver onde aconteceu o Congresso de Design

Centro de convenções em Vancouver onde aconteceu o Congresso de Design

Nossa inteligência – temos que nos lembrar – não está apenas na capacidade de “entender” o mundo, mas também e antes de tudo de “sentir” o mundo. Essa experiência sensível, estética, abandonada na nossa formação, quando só desenhávamos e fomos educados para escrever e pensar logicamente, usando o lado esquerdo do cérebro, pode ser o grande lapso de formação que nos levou a nos transformarmos em uma sociedade de pensadores insensíveis, perdendo 50% de nossa inteligência, de nossa capacidade de sentir o mundo e de “ver as coisas como elas são.”

Há uma parcela macia de nossa essência, um lado sensível no qual delicadeza, detalhe, sutileza, elegância, afeto, autoridade, sagacidade, empatia, intuição, generosidade, expressividade, poesia, música, dança e arte podem ter ficado adormecidos por tempo demais, para a maioria de nós, para os gestores, principalmente, e cabe agora jogar alguma luz sobre esse tema, para que um “despertar” possa ser experimentado, iluminando com calma, sensibilidade e reflexão a velocidade de resultados que nos oprime a todos.

“ A arte é feita para perturbar; a ciência tranqüiliza.” Georges Braque.

O design foi sempre esse território de fronteira entre ciência e arte, por isso, é lá que pode estar a chave desse despertar, a preservação do valor que a reintegração de nossas duas “metades”, razão e emoção, podem ter para desenhar um novo momento e um novo tempo.

Perturbando e tranqüilizando!

Ronald Kapaz é sócio da Oz Design.

www.ozdesign.com.br

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