Pensamento inovador alavancando a economia
Postado em: 30 / 08 / 2010
Mário Verdi
No meu primeiro artigo para o BDxpert.com, escrevi sobre o livro The Designful Company, de Marty Neumeier, que fala sobre a capacidade do design de implementar inovação. Design não apenas executado por designers, mas por todos que usem a lógica não-linear do pensamento criativo para buscar soluções inovadoras para qualquer tipo de problema, desde melhorias no sistema de tráfego de uma cidade até a criação de um sistema para levar água potável aos países subdesenvolvidos na África.
A IDEO, uma das mais conceituadas empresas de inovação do mundo, sediada na Califórnia, é um exemplo de como o mundo pode ser melhorado pela inovação. Falo aqui da inovação real, não da cópia do que já existe como fazem muitas de nossas indústrias nas quais a verba destinada à pesquisa vai para viagens ao exterior para ver o que os outros estão fazendo.
Pois bem, no link abaixo, vocês poderão ler uma matéria sobre uma grande inovação proposta pela IDEO para o Banco espanhol BBVA, que investiu em inovação para “criar” uma visão de futuro. A empresa foi procurada pelo banco com o intuito de propor um novo modelo de caixa eletrônico de auto-atendimento. A idéia era não apenas melhorar a interface, mas mudar o conceito de uso do equipamento.
A solução é incrível. Uma das principais mudanças, e também a mais simples, é a orientação da máquina com relação ao ambiente. Com uma rotação de 90 graus, foi melhorada significativamente a privacidade do usuário, que não fica mais de costas para a fila ou o interior do banco. http://futureselfservicebanking.com/
Esse é apenas um exemplo de como o pensamento inovador pode melhorar as experiências que temos com o mundo à nossa volta ou até mesmo revolucionar toda uma cadeia produtiva e social.
Quando morei nos Estados Unidos, de 2000 a 2005, tive a oportunidade de conhecer duas facetas do mundo dos negócios: o auge da bolha das Dot.com, no início da década, e sua abrupta decadência, logo depois. Quando cheguei, a Intel anunciava vagas para engenheiros de software nas laterais dos ônibus de linha e a Cisco brincava que os pedestres que passassem à frente da empresa seriam contratados.
Em novembro de 2002, a então CEO da HP, Carly Fiorina, anunciava um corte de 15.000 funcionários na empresa. Milhares de pessoas saíram do Silicon Valley naqueles meses. Bairros inteiros ficaram vazios, com negócios locais fechando as portas. Desde a lavanderia até a lanchonete Subway, todos ficaram sem clientes.
Condomínios de escritórios, com custo diário de manutenção de 600 mil dólares estavam com 10% de sua ocupação. Foi aí que eu entendi o conceito de economia em cadeia. Toda uma estrutura satélite que existia em função daquela força de trabalho perdia o sentido de existir.
Marketing do futebol
Vi também que a motivação para criar ou movimentar cadeias inteiras de negócio pode ser planejada e construída. Um exemplo que gosto de usar é o marketing do futebol. Quando estava lá nos Estados Unidos, jogava futebol em uma liga amadora, muito organizada. Em uma de minhas viagens ao Brasil, comprei uma bola profissional da marca Pênalty (a mesma do campeonato brasileiro da época, não as de jogo amador) e levei para mostrar aos colegas do time.
Quando joguei a bola no campo, todos fizeram cara feia, pois jogavam com uma bola Nike (bola amadora, que custava 1/3 do preço da Pênalty oficial que eu tinha levado). Aí eu disse que aquela era a mesma bola do campeonato brasileiro… a que os jogadores usam no campo lá no Brasil. Eles então vieram olhar a bola com carinho. Viram a bandeirinha do Brasil na bola, deram uns chutes e aceitaram usá-la na partida. Jogaram e adoraram a tal bola. Pediram-me que trouxesse outras e perguntaram se havia chuteira e outras coisas de marcas nacionais.
Aí me perguntei: Como é possível a seleção brasileira ser patrocinada por uma marca americana, originária de um país que não sabia nada de futebol e aprendeu pesquisando com quem sabe? Porque o Brasil não é conhecido como fabricante de artigos para futebol? Como deixamos que, em 2002, nossa camisa oficial fosse desenhada em série pela Nike, com desenho igual ao de várias outras seleções? Porque perdemos a chance de sermos desejados não pela idéia genérica do futebol, enquanto commodity, mas por produtos ligados a este esporte?.
A resposta é um misto de incompetência, acomodação e semvergonhice. Não temos a visão de negócios do americano. Não somos movidos a inovação e business como eles e, para piorar, temos um histórico de preferir o que é mais fácil, o que nos é oferecido de “barbada”, como um contrato milionário da Nike que enriquece poucos.
Fico imaginando como seria se houvesse um programa de governo para “projetar e construir” a maior marca de futebol do mundo aqui no Brasil. Movimentaria toda a indústria criativa, que teria que desenvolver a marca e sua identidade visual, as agências de publicidade, teriam que fazer a divulgação para todo o mundo, a indústria coureiro-calçadista gaúcha, as universidades, teriam que investir em pesquisa, o setor de confecções de Minas Gerais, o futebol como um todo, pois com uma marca poderosa todo o setor seria beneficiado. Enfim, estaríamos constituindo uma nova cadeia econômica com base num valor autêntico do nosso país. Isso é ser inovador.
Mas isso dá muito trabalho. É mais fácil assinar um convênio com a Nike. É mais fácil aceitar que nossos melhores jogadores sejam patrocinados por marcas estrangeiras e prefiram jogar fora do Brasil. Enquanto isso, por aqui todos acham que a versão amadora da bola Nike ou a Jabulani de pelada são melhores que uma Penalty oficial.
É uma questão de complexo de inferioridade. Mas não vamos nos enganar: a bola oficial da Nike ou a verdadeira Jabulani, que custa quase R$ 400,00, são muito melhores que uma Penalty oficial. E esse é um dos pontos a discutir.
Mário Verdi é designer, sócio-fundador da Verdi Design, de Porto Alegre, escritório de design que atua há mais de 20 anos nas áreas de identidade corporativa, sinalização, design gráfico e design de embalagens. Foi vencedor do Prêmio Bornancini de Design, edição 2008, com o projeto de identidade visual desenvolvido para a cidade de Foz do Iguaçu.