Clara Porset, uma mulher emblemática no design
Postado em: 05 / 10 / 2010
Márcio Dupont
Este artigo é uma homenagem à Clara Porset Dumas, desenhista industrial cubana pouco conhecida no Brasil e até em Cuba. Com uma trajetória similar à de Lina Bo Bardi no Brasil, Clara Porset, também foi pioneira no desenho industrial, não no seu país, mas no México, ajudando a construir e a fortalecer a disciplina com um papel fundamental para o nascimento de um país moderno e inovador.
Cubana de nascimento (Matanzas, 1895-1981) Clara deixa Cuba em 1936, por motivos políticos, e viaja ao exterior para estudar Estética, História da Arte e Composição Arquitetônica na Columbia University (Nova York), Universidade de La Sorbonne e na Escola de Belas Artes de Paris, respectivamente. Depois de formada com a recomendação de Walter Gropius, estuda com Josef Albers no Black Mountain, Carolina do Norte; especializando-se mais tarde em design de mobiliário.
Empreendedora, obtém já naquela época o primeiro Prêmio Continental do Museu de Nova York, em 1941, com um projeto de mobiliário rural, e a medalha de prata da Trienal de Milan, em 1957, com móveis de praia para hotéis de luxo.
Os seus estudos e práticas profissionais no exterior, com figuras destacadas do campo do design, arte e arquitetura, a colocaram em contato com pensamentos, tendências inovadoras do design da época, quando ela constatou, repetidas vezes, a importância do design no desenvolvimento produtivo/econômico de um país.
Depois de visitar o México, em 1940, decide fixar residência no país, onde se casa com o pintor Xavier Guerrero. Apesar de exilada, tinha uma formação de esquerda e a idéia de que o design deveria ser para todos, da classe alta aos trabalhadores. Sempre fiel sempre aos seus princípios, esse foi o eixo norteador de sua vida – o design para todos.
Clara Porset chega a seu novo país com uma sólida formação no campo do design de mobiliário e design de interiores, mas também chega a um país que vivia um momento histórico e cultural sem igual, depois da revolução de 1910, com um forte sentido de nacionalismo e resgate de sua cultura popular-artesanal.
Nesse contexto histórico único ela teve a oportunidade de conviver com intelectuais e mestres da arquitetura, muralismo, pintura, política, que procuravam desesperadamente por uma nova identidade nacional. Mestres como Luís Barragán, Pablo Neruda, Mario Pani, Enrique del Moral, Juan Sordo Madaleno e Diego Rivera.
Ao final dos anos 40 e princípios dos 50 havia muitos visionários como Juan O´Gorman, grandes pintores como Diego Rivera, mas nenhum personagem que explorasse esse novo caminho e importância do desenho industrial. Clara foi elemento vital e pioneira desbravadora nessa nova jornada.
Em seu novo país a sua atividade profissional foi rapidamente influenciada pela cultura artesanal, assim como aconteceu com Lina Bo Bardi no Brasil. Como Bardi, ela reconheceu a importância, o valor da cultura artesanal, dos seus processos e materiais particulares. Entendeu como essa riqueza “primitiva” não explorada poderia ser incorporada à linguagem do design, gerando assim uma nova cultura material, que poderia ser a resposta na busca de uma nova identidade nacional.
Clara Porset então desenvolve uma identidade mexicana com novas formas e conceitos em uma nova maneira de projetar design de mobiliário. Fusiona a sua experiência com a vanguarda européia, tendências do momento e o conhecimento e admiração que tinha pelas tradições mexicanas e a arte popular. Tinha afeição por formas orgânicas, uso de madeiras nobres e materiais como fibras naturais simples, concebendo um ambiente rústico, mas moderno para sua época.
Além dessa ebulição cultural, de esquerda principalmente, o país passava por um forte processo de urbanização e modernização, que exigia mobiliário urbano, arquitetura e design de interiores em todos os âmbitos e escalas. Clara, então, se encontrava no lugar certo, no momento certo.
Clara afirmava: “O mobiliário tem que ser como a arquitetura: uma expressão vivente que resulte do meio físico e cultural. O clima e o grau de desenvolvimento social, econômico e técnico de uma nação determinam necessariamente o material que se usa, a forma de trabalhá-lo e a aparência da forma.”
“Se a tudo isso se adiciona a força da herança cultural, poderosa como a do México, o que cabe é a expressão nacional que pode chegar a ter finalmente pelo seu mesmo mérito, valores internacionais.” Organiza em 1952, a exposição “Arte na vida cotidiana” foi a primeira exibição de desenho industrial e artesanato mexicano.
Profissionalmente Clara desenvolve mobiliário e decoração de interiores para projetos privados e do governo, chegando a exportar para Europa e Estados Unidos.
Volta ocasionalmente a Cuba, nos anos 60, para a realização de mobiliário maciço a serviço da Revolução. Elabora também o programa de criação da Escuela Superior de Diseño Industrial, que estaria a cargo de Che Guevara, mas que não aconteceu.
Como acadêmica elaborou programas acadêmicos de Desenho Industrial no México e América Latina e fundou o curso de pós-graduação em Desenho Industrial na Universidad Autónoma de México. Foi uma promotora incansável do desenho industrial em revistas, jornais, livros.
Clara Porset falece em 1981 e seus restos mortais encontram-se na Cidade do México. Deixou como legado sua figura visionaria, empreendedora, inesquecível, exemplo para todas as futuras designers latino-americanas, a sua biblioteca e projetos pessoais para o Centro de Investigaciones de Diseño Industrial UNAM.
O próprio UNAM, como homenagem a uma de suas figuras máximas, cria o Prêmio Clara Porset para mulheres designers do continente.
Podemos então, como conclusão final, perguntar: foi Clara Porset uma das primeiras precursoras da idéia de um design sustentável, junto com Lina Bo Bardi no Brasil? Pessoalmente acredito que sim.
Para saber mais sobre Clara Porset acesse:
Prêmio Clara Porset 2010
http://cidi.apoyo.unam.mx/clara_porset2010/
Trechos do livro “Inventando um México Moderno” – El diseño de Clara Porset
Biografias
http://bg.biograficas.com/presentacion.php