Setor de animação cresce e amplia formação acadêmica
Postado em: 13 / 12 / 2010
Alunos do Senac trabalham em oficina durante o lançamento de cursos de animação
Maria Edicy Moreira
O boom dos filmes em 3D de Hollywood (para ser vistos com óculos especiais ou não) desperta o interesse de profissionais e estudantes no mundo inteiro pela carreira de animador e produtor audiovisual.
Antes de falarmos do desdobramento desse mercado é importante esclarecer que existem duas possibilidades de entendimento sobre a tecnologia 3D. Os filmes em 3D com personagens e cenários modelados em softwares e os filmes em 3D modelados em software com exibição também em 3D, produções que na opinião de especialistas deverão ser uma alternativa quase natural nos cinemas. As produções com exibição em 3D para a TV devem seguir o mesmo caminho.
No Brasil, apesar do grande interesse pela profissão de animador, as possibilidades de trabalho, principalmente para o cinema, que é considerado o eldorado da animação pelo glamour e por absorver muita mão-de-obra, ainda são restritas. As produções para TV, Internet e dispositivos móveis também ainda têm muito a crescer e se desenvolver.
Talvez, por isso, nos últimos anos poucas universidades se interessaram em investir em cursos para formação acadêmica (graduação e pós) de profissionais para esse mercado. Assim a maioria dos animadores e produtores audiovisuais do Brasil tem formação técnica em cursos livres com um forte conteúdo programático baseado em softwares.
Exposição de objetos ópticos durante o lançamento dos cursos de animação no Senac
Porém, essa realidade está mudando tanto em nível de formação dos profissionais quanto de mercado de trabalho. O país começa a desbravar o mercado da produção de efeitos especiais para filmes tradicionais e até dá seus primeiros passos em filmes 3D. Além disso, tem certa tradição na produção de filmes publicitários e vinhetas para a TV, os dois mercados mais consolidados.
As produtoras independentes aparecem como o maior mercado empregador e o que mais cresce. “Estamos passando por uma forte transformação com o crescimento das produções independentes para o cinema, a TV e para as novas mídias (Internet e dispositivos móveis). O momento para os animadores é extremamente promissor”, afirma Kiko Mistrorigo, animador e sócio da TV Pinguim.
O professor e diretor de animação, Chico Bela, reconhece que o segmento de animação na área de publicidade ainda representa o maior mercado de trabalho para os animadores brasileiros, mas chama a atenção para o surgimento do mercado de séries e longas que abre outras opções de trabalho. Além disso, ele observa que o governo vem fazendo investimentos na área e isso contribui para o crescimento do mercado.
Alécio Rossi, responspavel pela equipe que criou os cursos de animação do Senac
Formação acadêmica
Essas boas perspectivas em relação ao crescimento da demanda por animadores e o interesse dos estudantes pela área estão levando algumas escolas a investir em cursos de graduação e pós-graduação para a formação de novos profissionais.
O Centro Universitário Senac anunciou para 2011 dois novos cursos: Produção Audiovisual (graduação) e Animação (pós-graduação). Alécio Rossi, líder da equipe que desenvolveu os cursos, conta que há algum tempo a escola vem percebendo o interesse dos jovens pela área de animação, por isso, decidiu investir nos novos cursos para atender a essa demanda.
“As oficinas sobre o tema, oferecidas como atividades complementares nos cursos de design, sempre atraíram os alunos. Alguns deles já ganharam até prêmio com animações feitas nestas oficinas (Trama Virtual, prêmio para o filme de animação sobre música de Tim Maia).”
Rossi diz que o mercado de animação ainda está se estruturando, mas a sua consolidação é uma questão de tempo e de amadurecimento. “Ainda temos muito a fazer para termos produções de qualidade e esse crescimento e amadurecimento devem acontecer de forma bastante rápida.”
Enquanto o mercado do cinema, talvez o mais desejado, não se consolida as outras plataformas (publicidade, TV, Internet, dispositivos móveis etc.), se apresentam como alternativas de trabalho mais imediatas.
Kiko Mistrorigo, animador e sócio da TV Pinguim, que prestou consultoria ao Senac
Para o desenvolvimento dos cursos de Produção Audiovisual e Animação, Rossi contou a consultoria de Kiko Mistrorigo, animador e sócio da TV Pinguim, e Chico Bela, diretor de animação e professor, além do apoio dos professores do Senac: Sandra Tucci, Pericles Martins e Fernando Carvalheiro (Carvall).
A equipe, preocupada em diferenciar o curso frente à concorrência, procurou estruturar o projeto pedagógico de acordo com a metodologia do Senac, que parte sempre de um desafio concreto para os alunos a cada semestre. Apresenta embasamento teórico que ajuda a entender o desafio e os alunos desenvolvem um produto final para análise e avaliação do grupo (alunos e professores) envolvido.
“Essa metodologia parece simples, mas durante o processo aparecem as mais diferentes situações de aprendizagem e, no final do curso o aluno terá participado da produção de quatro animações e ainda terá um pequeno portfólio para se apresentar”, explica Rossi.
Kiko Mistrorigo, contratado para auxiliar no desenvolvimento do curso de Produção Audiovisual, diz que um dos desafios na hora de desenvolver o curso foi sintetizar em quatro semestres todo o conhecimento básico necessário para a formação do animador, tendo em vista que o curso objetiva uma formação ampla: do design ao roteiro, da sonorização às técnicas de animação etc.
Chico Bela, que cuidou principalmente o conteúdo técnico específico de animação, também sentiu dificuldades em inserir tanto conteúdo nas aulas. “O conteúdo de animação é enorme e, suas adjacências mais ainda, por isso, dimensionar o conteúdo essencial de acordo com o tempo que se tem de curso e encontrar a melhor maneira de encadear esse conteúdo foi um desafio.”
Chico Bela, que cuidou principalmente do conteúdo técnico de animação do curso
Outro desafio, segundo ele, foi encontrar o ponto de equilíbrio entre a formação técnica e uma boa base de conceitos e fundamentos para que os alunos tivessem uma formação mais sólida e ampla. Assim, ele procurou dar aos alunos uma base capaz de deixá-los preparados para o mercado de trabalho de forma que seu caminho profissional se desdobre nas várias áreas que a animação permite atuar e que eles possam escolher aquela com a qual mais se identificam.
Onde os futuros profissionais formados pelo Senac poderão trabalhar? As possibilidades são muitas graças à multidisciplinaridade dos cursos animação. Dependendo do seu interesse o aluno poderá se envolver mais com sonorização, colorização, movimento, desenho, roteiro, edição etc.
“Durante o curso o aluno passa por todos os processos, mas poderá se aproximar mais das áreas em que se sinta mais confortável. Dessa forma respeitamos e potencializamos o talento de cada um”, afirma Rossi. O profissional poderá ainda ter seu próprio negócio, montando estúdio de animação.
Chico Bela diz esperar que os futuros profissionais tenham papéis mais bem definidos em uma linha de produção, ao invés de fazer de tudo um pouco como ocorre hoje. “Como a animação é uma arte de equipe é necessário que cada um encontre a sua área de maior interesse e atue nela.”
Os cursos
O curso de graduação em Produção Audiovisual lançado pelo Senac tem como objetivo formar profissionais com um perfil multidisciplinar como demanda a área de animação. A pós-graduação em Animação é um quase um desdobramento da graduação em Produção Audiovisual.
O público alvo também é quase o mesmo, a diferença é que o aluno da pós-graduação precisa ser graduado, preferencialmente nas áreas de comunicação, arquitetura, arte e design. Nesse caso a especialização prepara também coordenadores de projetos, diretores e até roteiristas.
Para saber mais sobre os cursos acesse:
Produção Audiovisual http://tiny.cc/69t4c
Animação http://tiny.cc/w7lvm
