Design interferente: designer não cria só ilustrações, forma e função
Postado em: 25 / 12 / 2010
Felipe Garcia
Hoje sabemos que o design se tornou muito mais do que simplesmente projetar produtos, embalagens, fazer layouts, criar logotipos e ilustrações. Digo isso, porque entendemos que o design, além de ser uma atividade transversal, ou seja, além de participarmos de toda a atividade projetual seja desenvolvendo produto ou qualquer atividade, atendemos desde o plano estratégico até o chão de fábrica.
Porém, a atividade de design está começando a assumir alguns papéis diferentes principalmente na indústria, área na qual possuímos vivência projetual. O empresariado tem apostado em nossa profissão e atividade por entender que estamos assumindo cada vez mais o papel de consultores em design. Hoje somos capazes de interagir com as diversas áreas de uma organização, ou seja, possuímos uma visão global e de 360º do negócio.
É o famoso Design to Business ou Design de Serviços. Atividade esta ainda pouco explorada no Brasil, que se propõe a melhorar a experiência do cliente em questões como tranquilidade, satisfação, lealdade e eficiência envolvendo todas as áreas, desde ambiente, comunicação e produtos.
Outra atividade em alta e bastante explorada por alguns escritórios de design, encabeçada pela agência IDEO, é o Design Thinking, uma metodologia original e efetiva, que pode ser aplicada ao design de inovação, sistemas, processos e no design do negócio em si. Um método que oferece uma compreensão mais ampla, ágil e profunda sobre o estilo de vida dos indivíduos, facilitando assim a solução de problemas complexos.
Comentamos esses processos para deixarmos nosso leitor a par das grandes e profundas transformações que estamos vivenciando. Hoje pertencemos a uma geração de transição. Foi-se o tempo em que ser designer era desenvolver grandes ilustrações e projetar a forma junto à função.
Escolhi o case do Redutor de Velocidade WBX do grupo multinacional Woodbrook, desenvolvido pelo nosso escritório, para iconizar esse novo termo. Nele podemos perceber como a atividade do designer é multidisciplinar.
Durante o desenvolvimento do produto tivemos um processo de imersão no projeto. A metodologia usada nos fez perceber a necessidade, entender a solicitação e comunicar o produto por meio de animações e edições de vídeo com a finalidade de empreendermos e vendermos a marca para equipes de vendedores e em feiras e eventos e não apenas a um determinado público consumidor.
Fabricado em ferro fundido, desenvolvido com linhas que transmitem robustez, dinamismo e velocidade o produto apresenta uma redução de peso de 20%, além de maior área de troca térmica sempre tendo ao lado o discernimento de um design honesto e condizente com as limitações produtivas do cliente.
Além desse projeto, gostaria de comentar outros grandes projetos, amigos e colegas de profissão, que possuímos na área do design. Tudo isso para dizer que o nosso país, com a sua imensidão e capacidade produtiva, nos reserva gratas surpresas em áreas que o design ainda não é utilizado e, principalmente, pouco divulgado.
Precisamos levar conhecimento a essas regiões, tomar conhecimento de nossas necessidades, percebermos de uma vez por todas que o design está longe de ser elitista. Às vezes nos esquecemos do fator social que o design possui. Não falo em caráter de sociedade, mas no sentido antropológico que o design detém.
São incontáveis as vezes que saímos para reuniões pelo interior de São Paulo e Brasil afora e muitas das vezes tivemos que defender a nossa profissão, explicar o nosso sentido, o nosso valor e, inúmeras vezes explicarmos em quais áreas o design se insere na organização, qual será o nosso papel e qual impacto teremos ao final de um desenvolvimento.
Fico contente com o trabalho que desenvolvemos para a Woodbrook porque, assim como nossos amigos desenvolveram grandes projetos nos setores hospitalar e farmacêutico, nós inauguramos e integramos o design em uma nova área, a dos Redutores de Velocidade, como a primeira empresa no Brasil a desenvolver esse tipo produto.
Quero deixar bem claro, que essa não é uma vitória apenas nossa, é uma vitória da nossa profissão. O projeto da Woodbrook mostra que o empresariado percebeu o nosso valor e que o design pode assumir outros papéis, deixar nossa identidade e abrir um imenso campo a ser explorado por outros escritórios de design, elevando ainda mais o nível do design nacional perante o mundo.
Felipe Garcia é mestrando em Artes Visuais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e pós-graduado em Master Industrial Design pelo Instituto Europeo di Design, bacharel em Design de Produto pela Universidade Mackenzie. De 1999 a 2001 trabalhou como designer de jóias e teve trabalhos produzidos por H. Stern e Vivara. Atuou em escritórios de design de embalagem nos quais desenvolveu trabalhos para Danone, Niasi, Adria, Bic, 3M, Pepsico, CSN, entre outros. Trabalhou durante dois anos no estúdio de design da BSH Continental Eletrodomésticos onde desenvolveu conceitos globais das marcas Bosch e Continental. Há 4 anos fundou a FF Design Studio e desde então atua nas áreas de design gráfico, de produto, embalagem, entre outras. Também é professor e coordenador adjunto do curso de Design de Produto do Instituto Europeo di Design e professor da Universidade Paulista.
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Comentários (4)
Parabéns pelo artigo Felipe. Acho que todos estamos no caminho certo. Abraço, Levi.
Muito bom! Parabéns! Já divulguei este artigo na minhas redes sociais. abraço
Parabéns FF….
Show de bola…
Olá Levi! Que grata supresa seu comentário! Nós sempre nos espelhamos na sua empresa! Obrigado pelo seu legado no design, isso sempre traz inspiração à nós! Grande abraço! Felipe