Como transformar um bom designer em um medíocre
Postado em: 07 / 01 / 2011
Mário Verdi
Este artigo foi adaptado de “Como transformar uma boa agência em uma agência medíocre em apenas 4 lições” – veiculado pela ABAP (Associação Brasileira de Propaganda) na Veja de 7 de setembro de 1994.
Se nos dois primeiros artigos que publiquei no BDxpert (www.bdxpert.com) falei sobre o novo papel do design como ferramenta alavancadora da INOVAÇÃO e da MUDANÇA, neste artigo escrevo, de forma irônica, sobre como impedir que o processo de evolução aconteça, mostrando as armadilhas mais comuns no processo de implementação do design na estratégia e nas operações das empresas. Se você é empresário e está contratando design, cuide-se para não seguir as lições abaixo:
Lição nº1
Antes de iniciar um relacionamento com seu escritório de design, deixe bem claro que você está pagando a conta. Ou seja: você é quem manda. Com isso, você consegue rapidamente inibir qualquer iniciativa por parte dos designers. Eles perceberão que, em vez de buscar resultados, devem buscar sua aprovação. Se o trabalho está certo ou errado, se resolve o problema apresentado, se tem qualidade ou não, isso pouco importa. Afinal, tentar convencê-lo de que a opção correta não é aquela que mais lhe agradou custa tempo e dinheiro. O que importa mesmo é que você aprove.
Lição nº2
Proíba qualquer inovação na sua marca e nos seus produtos. Comece dizendo quanto tempo tem sua empresa e que ela é assim desde que começou, há muitos anos. Diga também que as pessoas já a conhecem assim como ela é muito antes de se falar em design. Para que mudar? Mudança só serve para mostrar que alguma coisa não vai bem. Deixe que as mudanças fiquem por conta da Apple, da Natura, da Bauducco, da Pepsi, da Renault, do Bradesco, e de outras empresas ruins que não se preocupam tanto com estas coisas. Pelo menos assim você terá certeza de que nunca vai errar. E de que nunca vai acontecer algo de novo com você.
Lição nº3
Subestime os designers. Eles entendem de design, mas quem conhece o seu produto é você. Essa história de estratégia não é para qualquer um. Os designers devem executar o que você acha que tem que ser feito e ponto. Se quiser, você até pode dar uma mãozinha adiantando quais as cores de sua preferência ou pedindo para que combinem com os móveis que você já tem. Pensando bem, talvez você nem precise de designers. Existem softwares ótimos que fazem desenhos bem legais. De repente pode ficar interessantíssimo para alguns consumidores. Nunca se sabe. Ah, se você tiver algum sobrinho ou amigo que mexe no computador, talvez ele possa fazer bem rápido para você. E vai custar quase nada.
Lição nº4
Seja sempre esperto, economize. Procure sempre o menor preço entre os escritórios de design que você conhece. Aliás, tenho uma idéia melhor. Abra uma concorrência. Chame vários escritórios e peça para que cada um apresente seu trabalho. Prometa que se aprovado haverá muito trabalho depois. Dê pouco tempo e só pague pelo trabalho aprovado. Assim, você pode escolher entre várias propostas a que melhor lhe satisfaz.
Você certamente sairá ganhando. O nível do trabalho não deverá ser dos melhores, afinal este tipo de concorrência é muito arriscado e todos os participantes farão o trabalho o mais rápido possível. Não dá para pesquisar, testar ou propor inovações. Afinal, existem várias pessoas trabalhando no seu projeto sem saber se receberão por isso. Certamente você verá várias opções dentro daquilo que você julga ser bom. Cabe somente a você escolher a melhor. A fundamentação do trabalho não importa muito. Aliás, é muito complicado querer encontrar algum propósito em meros desenhos.
Ache sempre caro. Afinal, qual é a diferença entre um bom escritório de design e outro ruim? Talvez o bom possa comprar mais livros, contratar os melhores profissionais, mais capazes, que tenham dinheiro para ir ao cinema, ler, viajar, estar por dentro do que acontece no mundo. Pessoas que conhecem a obra de Maurice Escher, Adrian Frutiger, Leonardo da Vinci, Roland Barthes, Sigmund Freud, Phillipe Stark, Lars Matissen, Steve Jobs, Marty Neumeier, Tim Brown e outros loucos que mudaram o mundo ou trabalham para algumas das melhores empresas do mundo. Mas será que sua empresa precisa destas pessoas? Talvez não.
Existem bons jovens que operam computadores como ninguém. Mas não espere deles aquelas bobagens de diagnóstico, pesquisa e conceituação de projeto. Afinal eles participam de muitas concorrências não-remuneradas e precisam correr muito. Precisam trabalhar mesmo, até de madrugada. Inovação, Criatividade e Experiência é bobagem. Tem é que botar a mão na massa. Com resultados rápidos. Afinal, não temos tempo a perder!
Mário Verdi é designer, sócio-fundador da Verdi Design, de Porto Alegre, escritório de design que atua há mais de 20 anos nas áreas de identidade corporativa, sinalização, design gráfico e design de embalagens. Foi vencedor do Prêmio Bornancini de Design, edição 2008, com o projeto de identidade visual desenvolvido para a cidade de Foz do Iguaçu. Em 2010 conquistou o terceiro troféu Bornancini consecutivo na categoria Identidade Visual pelo projeto desenvolvido para a UNILA – Universidade Federal da Integração Latino-Americana.
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Comentários (1)
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