Design & Business: Designers de la Mancha

Postado em: 23 / 02 / 2011

 
Fábio Mestriner

Fábio Mestriner

Fábio Mestriner

Um dia destes, um designer de um importante escritório comentando comigo as dificuldades que todos temos enfrentado nos últimos tempos cunhou o título deste artigo: “Designers de la Mancha”.

Nossa quixotesca batalha para manter escritórios e agências em um país que, em vez de ajudar as empresas a se desenvolverem, faz de tudo para complicar e impor dificuldades ao seu funcionamento é um verdadeiro desafio. Os governos cobram impostos escorchantes para manter uma monstruosa e, na maioria das vezes, ineficiente máquina pública alienada à corrupção que prejudica o trabalho honesto e, em um final apoteótico, se comporta como um verdadeiro inimigo de quem produz neste país.

Não estou me referindo apenas às empresas de design que sofrem com a ação desse sistema, mas principalmente às empresas dos nossos clientes, que não conseguem contratar ou pagar um valor justo pelos nossos serviços de design por estarem oprimidas pela situação quixotesca que descrevi acima.

Essa introdução serve para ilustrar o cenário de dificuldades no qual temos que conduzir nossos negócios. O Brasil não é para amadores, é um país com uma legislação complicada, cheio de dificuldades para quem deseja empreender. É preciso fazer mais que bons desenhos para sobreviver e principalmente para conquistar uma posição e mantê-la em um mercado a cada dia mais competitivo e com os preços do design cada vez mais baixos.

Quem quiser conduzir um escritório de design precisa estar preparado para enfrentar grandes dificuldades, não se pode entrar neste negócio ignorando a complexidade do ambiente empresarial brasileiro.

Na sua loucura Don Quixote pensava lutar contra gigantes, mas na verdade eram moinhos de vento

Na sua alucinação, Don Quixote pensava lutar contra gigantes, mas na verdade eram moinhos de vento

 

Mesmo assim, não vamos desanimar, pois uma pesquisa recente do Sebrae mostrou que o índice da mortalidade de empresas que era de 8 em cada 10 que abriam melhorou muito nos últimos anos e agora é de apenas 6 em cada 10. Quer dizer, 4 em cada 10 empresas estão conseguindo sobreviver. Isso se deve à melhora na qualificação de nossos empreendedores que estão se lançando no mundo dos negócios com mais planejamento e “pé no chão”. Graças, inclusive, ao ótimo trabalho que o Sebrae vem fazendo e ao crescimento da economia brasileira que vem melhorando desde o Plano Real.

O Brasil é mesmo um país surpreendente, pois mesmo com todas as dificuldades o design brasileiro, prosperou, cresceu, melhorou de qualidade e vem conquistando prêmios nos principais concursos internacionais.

Hoje ainda precisamos fazer muito mais do que os nossos colegas dos países desenvolvidos para mantermos um negócio de design. Sabemos a luta que precisamos travar e os leões que precisamos matar todos os dias para continuar sobrevivendo.

Mas esse, como me disse uma vez o mestre Lincoln Seragini, “é um negócio que não tem sossego, nem fim” embora seja ainda um dos mais gratificantes que existem.

Nós, designers de la mancha, que o digamos! 

 

Fabio Mestriner é especialista em design e inteligência de embalagem; professor coordenador do Núcleo de Estudos da Embalagem ESPM; coordenador do Comitê de Estudos Estratégicos da ABRE e autor dos livros: Design de Embalagem Curso Avançado e Gestão Estratégica de Embalagem

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Comentários (1)

 

  1. Adriana G disse:

    Excelente! Corajoso.” Os governos cobram impostos escorchantes para manter uma monstruosa e, na maioria das vezes, ineficiente máquina pública alienada à corrupção que prejudica o trabalho honesto e, em um final apoteótico, se comporta como um verdadeiro inimigo de quem produz neste país”.
    Um relato em preto e branco da realidade de nossas empresas. O que dá esperança é que o nível do empreendedor está melhorando. ~Empreender não é falta de opção e sim uma opção. Parabéns!

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