Peugeot e Citroën com identidade e design brasileiros

Postado em: 08 / 03 / 2011

 

O brasileiro, Citroën Aircross, em imagem gerada no 3ds Max a partir do protótipo digital

O brasileiro, Citroën Aircross, ganhou alto padrão de cabamento com rodas Buggy (imagem no Max)

 

Maria Edicy Moreira

“O europeu não gosta de dirigir, por isso quando vai comprar um carro escolhe pelo que vai fazer com ele. O brasileiro compra pela emoção. Ele gosta da esportividade, dos carros off-road, de segurança como um pára-choque bem sólido…”, afirma Thierry Hospitel, diretor de estilo da PSA Peugeot Citroën para a América Latina.

“O europeu compra carros pela razão e o brasileiro pela emoção. Ele compra porque quer sentir que está subindo na vida, escolhe rodas metálicas mais bonitas para ganhar status… Esse aspecto é típico do brasileiro”, afirma Frederico Laguna gerente de produto estilo da PSA para a América Latina.

Essa percepção comum entre o francês Thierry Hospitel e o brasileiro Frederico Laguna mostra que o brasileiro tem uma relação com os automóveis muito diferente do europeu. Além apreciar as características de design, conforto e esportividade, o brasileiro adora dirigir e “ama” seu automóvel, trata-o quase como um membro da família.

Diante dessa realidade a montadora francesa PSA, detentora das marcas Peugeot e Citroën, percebeu que, se quisesse realmente conquistar o consumidor brasileiro, não bastava fornecer carros franceses com algumas adaptações, era preciso desenvolver também veículos nacionais, compatíveis nossos gostos e necessidades.

Não podemos nos esquecer também de que para desenvolver um automóvel para o mercado brasileiro é precisa levar em conta as condições ambientais do país. Vivemos em um país tropical, com estradas bem piores que as européias e, isso exige automóveis com entrada de ar maior, por causa do clima quente, e com uma estrutura mais forte e alta para resistir às más condições das nossas estradas.

 

Protótipo virtual modelado no Icem Surf e apresentado no Showcase usado para validação de estilo

Protótipo virtual modelado no Icem Surf e apresentado no Showcase para validação de estilo

 

Como chegar a esse automóvel brasileiro? Começando pela instalação de um centro de estilo local. Foi a que a PSA fez. A montadora, que está completando 10 anos de fabricação de automóveis no Brasil, sabia que não bastava estar afinada com as características do mercado brasileiro, era preciso ter equipes locais altamente capacitadas nas áreas de estilo e de pesquisa e desenvolvimento e, um ambiente equipado com as últimas tecnologias voltadas ao design de automóveis para que esses profissionais pudessem trabalhar.

Para atender a esses requisitos a montadora investiu em sofisticado Centro de Estilo, que fica em São Paulo, na sede do Latin America Tech Center (o Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Estilo do Grupo PSA América Latina). Comando pelo designer francês, Thierry Hospitel, o Centro de Estilo reúne em torno de 20 profissionais entre designers e especialistas em modelamento de superfícies 3D que se dividem entre o Centro de Estilo de São Paulo e a fábrica em Porto Real, RJ. O grupo já desenvolveu automóveis brasileiros como Peugeot Hoggar e Peugeot 207 e o Citroën Aircross.

Hoje a equipe de estilo que atua em São Paulo cuida da concepção dos automóveis, modelamento 3D, criação de protótipo físico e protótipo virtual, acompanhamento de projetos durante a fase engenharia avançada e da criação de material (animações e imagens) para ações de marketing, para uso interno e para ilustrar os sites dos automóveis.

 

Thierry Hospitel, diretor de estilo da PSA

Thierry Hospitel, diretor de estilo da PSA

Frederico Laguna, gerente de produto estilo

Frederico Laguna, gerente de produto estilo

O modelamento 3D feito no Centro de Estilo envolve todas as partes visíveis dos automóveis como portas, capô, parte externa e interna, painel de instrumentos, teto pára-choques, bancos, painéis das portas etc. Todos esses itens são modelados no software Icem Surf, software da Dassault Systèmes.

A lém disso, a equipe de modelamento 3D mantém uma parceria estreita com os profissionais responsáveis pela construção dos protótipos físicos. “Os protótipos físicos não são de responsabilidade do nosso departamento, mas nós trabalhamos em parceria com os responsáveis pela sua construção porque sem o protótipo não conseguimos validar nossas superfícies e sem nossas superfícies eles não conseguem validar os protótipos”, afirma Frederico Laguna.

Equipe multidisciplinar

O Centro de Estilo de São Paulo conseguiu desenvolver uma equipe multidisciplinar e multimarca, composta principalmente por brasileiros. Esse é o único Centro de Estilo da PSA que trabalha com as marcas Peugeot e Citroën simultaneamente. Os outros dois Centros de Estilo do grupo, instalados na França e na China, contam com equipes distintas para cada marca. “Temos que ter jogo de cintura para trabalhar com as duas marcas”, afirma Frederico Laguna.

As duas marcas, Peugeot e Citroën, têm conceitos de design bem diferentes. A Peugeot trabalha com o conceito “Motion & Emotion” que, segundo o diretor de estilo da PSA, Thierry Hospitel, se propõe a transmitir o dinamismo, a esportividade e, ao mesmo tempo, o estilo clássico da marca Peugeot. “Os automóveis têm um jeito felino que lembra os olhos e a boca do leão (símbolo da marca).”

O DNA do design da Citroën traz o conceito “Créative Technologie”. Como ja dá para perceber, o coneito é focado em tecnologia. O design parece mais “tecnológico” com linhas retas, ao contrário da marca Peugeot, que tem automóveis com formas orgânicas.   

Os primeiros esboços dos automóveis Peugeot e Citroën, concebidos pelos designers no Centro de Estilo de São Paulo nascem em tablets. Depois suas criações são transferidas para os computadores da área de modelamento de superfícies 3D na qual profissionais especializados transformam os esboços em modelos 3D, usando o software Icem Surf, da Dassault Systèmes.

O trabalho dos estilistas envolve acompanhamento da engenharia avançada desde o surgimento das  primeiras ideias em relação ao novo automóvel quando são definidos detalhes como dimensão, tipo de motor, de chassi, de pneu, quantas portas etc. Ao longo de todo o processo de concepção os designers criam sketches para ilustrar aquilo que a diretoria e o pessoal de marketing estão imaginando para o novo veículo.   

Peugeot 207 traz o estilo clássico e as linhas orgânicas da marca (imagem gerada no Showcase)

Peugeot 207 traz o estilo clássico e as linhas orgânicas da marca (imagem no Showcase)

 

Convergência estilo/técnica

Além de materializar as ideias propostas pela diretoria e pelo pessoal de marketing na forma de sketches e ilustrações, a equipe de estilo tem um papel fundamental na viabilização da convergência estilo/técnica. Ao longo do processo de concepção esses profissionais vão definindo o que é viável, e fazendo melhorias para transformar o inviável em algo executável. 

Como em qualquer processo de concepção de produtos a criação de um automóvel também tem muitas idas e vindas e só depois de alcançada a perfeita convergência entre estilo e técnica é que se bate o martelo para a fabricação do produto. No caso dos automóveis da PSA, por exemplo, pode acontecer de a forma original ser muito bonita, mas não ser suficientemente resistente, ou de um material que se pretendia usar não resistir à luz ultravioleta, ou a textura ficar manchada. Tem várias limitações e várias melhorias que vão sendo feitas ao longo do processo criativo.

“Nem sempre os desejos de estilo visual e de funcionamento imaginados na fase inicial são viáveis. À medida que o desenvolvimento do veículo vai evoluindo percebe-se limitações de custos, ou de processos, ou o fornecedor não consegue fornecer aquela peça. Então nós do estilo vamos readaptando e corrigindo as ideias originais para conseguir colocar o produto em linha. Também tem várias coisas que no início não foram pensadas e, depois os fornecedores e ou pessoal de expertise interno vão indicando melhores caminhos e a gente vai corrigindo o design e melhorando o produto”, afirma o gerente de produto estilo, Frederico Laguna. O trabalho de convergência estilo/técnica pode durar de 1 ano a 1,5 ano.

O pessoal de estilo da PSA zela também pela “qualidade percebida” que, segundo Laguna, é aquilo que o consumidor, mesmo como leigo percebe, não sabe explicar o que é, mas sabe que é superior em relação a um produto concorrente. Os designers verificam detalhes como a distância entre uma peça e outra, alinhamento entre as peças, detalhes de acabamento das peças etc. A busca pela “qualidade percebida”, feita pelo pessoal de estilo, passa também a validação de peças pré-séries. O fornecedor fabrica uma peça pré-série e manda para Centro de Estilo checar se tem a qualidade visual que os designers desejavam desde o início do projeto ou se necessita de correções no acabamento, por exemplo.

 

Validação de estilo

Protótipo virtual do Aircross apresentado no Showcase para validação de estilo

Protótipo virtual do Citroën Aircross apresentado no Showcase para validação de estilo

 

O jogo de cintura dos brasileiros está também no uso das tecnologias voltadas à validação de estilo. Enquanto nos Centros de Estilo da PSA na França e na China as validações de estilo são feitas no Icem Surf, um software muito bom para modelamento de superfícies, mas limitado para apresentações, no Brasil o pessoal de estilo usa o software de visualização Showcase, que atualiza as modificações de cores, cenários etc. em tempo real. Com a aquisição do Showcase, da Autodesk, em 2009, e a da instalação de uma sala de Realidade Virtual o Centro de Estilo da capital paulista passou a trabalhar com protótipos virtuais de forma muito mais eficiente.

“Antes usávamos o Icem Surf para validar o estilo, mas ele tem limitações de realidade. Agora os modelos 3D gerados no Icem Surf vão direto para o Showcase que usamos para apresentação do estilo aos diretores e ao pessoal de marketing no Brasil e na França”, diz Frederico Laguna. Segundo ele, vários motivos fizeram a PSA chegar ao Showcase. Primeiro foi a necessidade de montar rapidamente uma maquete virtual (protótipo virtual) do carro inteiro e dar um aspecto mais realista à apresentação, coisa que poucos softwares permitem fazer.

“Com o Showcase temos muito mais agilidade porque podemos trabalhar com diversos ambientes: estúdio, externa com diferentes tipos de iluminação, podemos colocar o carro na rua, na floresta…, quando o modelo 3D ainda está em desenvolvimento. Além de ser leve, o software permite apresentar o carro inteiro de forma bastante realista porque é tudo real time”, conta Laguna.

“Às vezes temos três ou quatro versões de veículos para apresentar ou temos de mostrar dois veículos ao mesmo tempo e conseguimos fazer tudo na hora. O Showcase foi surpreendente. Nos trouxe agilidade nas mudanças e nas escolhas de estilos. Conseguimos ser muito mais precisos naquilo que estamos escolhendo“ comemora Laguna. Ele admite que o software gerou mais trabalho porque os designers se sentem com liberdade para pedir muito mais modificações e novas propostas. “Mas temos a certeza de que estamos trabalhando na melhor proposta e não naquilo que deu tempo de fazer.”

Protótipo virtual da pickup Hoggar gerado no Showcase para validação de estilo

Protótipo virtual da pickup Peugeot Hoggar apresentado no Showcase para validação de estilo

 

O Showcase somado ao Icem Surf acelera também as mudanças solicitadas durante a validação de estilo e a apresentação de novas propostas. Laguna conta que hoje um bom modelador consegue fazer, no Icem Surf, uma nova proposta de pára-choque básico em dois ou três dias e, em algumas horas colocá-la no carro que já está no Showcase. Assim, em dois ou três dias ele consegue mostrar duas ou três propostas diferentes de um pára-choque, coisa que antigamente demorava três ou quatro semanas e provavelmente iriam pedir um protótipo físico para validar a nova proposta.

O software começa a ser usado desde a primeira fase até o final da concepção do automóvel. Quando projeto é finalizado, o protótipo digital do veículo gerado no Showcase, está pronto para ser usado como base para produzir imagens e animações para o site do novo veículo e para a produção de material de marketing, neste caso no 3ds Max. As imagens 3D geradas no Showcase são usadas também na elaboração do manual do proprietário que antes era desenhado à mão.

Isso não quer dizer que o Showcase substitua os protótipos físicos, mas elimina fases intermediárias de prototipagem e isso já representa um grande ganho de tempo e dinheiro. Um protótipo de um automóvel completo interno e externo custa mais de R$ 1 milhão.

 

3ds Max

Imagem realista da Hoggar gerada no 3ds Max a partir do protótipo virtual

Imagem realista da pickup Peugeot Hoggar gerada no 3ds Max a partir do protótipo virtual

 

Outro software que vem fazendo sucesso entre os profissionais do Centro de Estilo é o 3ds Max, também da Autodesk. O software é usado pela equipe de modelamento 3D para desenvolver material de marketing destinado à divulgação dos novos automóveis como os catálogos, por exemplo. As imagens geradas no Max são mais perfeitas do que as fotos do automóvel real.

A vantagem do Max em relação ao Showcase é que o Max permite criar imagens mais realistas porque tem um módulo de cálculo de luz e sombra com todos os reflexos do ambiente real. É possível também usar o Max para trabalhar o protótipo virtual sobre imagens de fundo: fotos em 360 gruas. A desvantagem do Max é que o software realiza cálculos complexos e, por isso, demanda mais tempo de processamento.

 

Conheça alguns automóveis brasileiros, Peugeot e Citroën

 

Citroën Aircross

Para desenvolver o Citroën Aircross os designers do Centro de Estilo de São Paulo usaram como base o Citroën C3 Picasso fabricado na França. O veículo foi totalmente redesenhado e se transformou em um novo produto, o brasileiro Citroën Aircross. Com um design esportivo e aventureiro o veículo ganhou alto padrão de acabamento como rodas Buggy 16” diamantadas em preto brilhante e pneus de uso misto para mais segurança em todos os tipos de terreno.

Além disso, traz barras de teto longitudinais em alumínio e inéditos duplos chevrons (símbolo da marca em formato de “V” invertido) cromados na grade frontal, reforçando seu estilo off-road, e também sensor de chuva, faróis com acendimento automático e função follow-me. O painel esportivo cilíndrico forma um conjunto harmônico com instrumentos de navegação.

O entre-eixos alongado do Citroën Aircross proporciona área interna de 2.540 mm. O conjunto de suspensão garante conforto físico e auditivo na passagem por obstáculos, além disso, o automóvel traz um pára-brisa panorâmico e acústico com camada antirruído. O estepe traseiro é inédito nos automóveis do grupo PSA e o motor flex acentua o lado brasileiro do veículo.

 

Peugeot 207

Peugeot 207 Quicksilver, concebida no Brasil, respira esportividade (imagem no Max)

Peugeot 207 Quicksilver, concebido no Brasil, respira esportividade (imagem no Max)

 

O Peugeot 207 brasileiro nasceu da base de um produto francês, Peugeot 206. O desenvolvimento do 207, segundo Frederico Laguna, foi muito além de uma tropicalização. “O estilo foi todo refeito, além disso, foram feitas mudanças nos acabamentos, na suspensão, no câmbio e nas peças internas para reduzir o ruído do motor. Criamos um novo veículo.” O veículo agradou não só aos brasileiros, mas também aos franceses. O centro de estilo da PSA na França usou o Peugeot 207 brasileiro como base para desenvolver um novo produto para o mercado europeu, o Peugeot 206 Plus. 

O design do Peugeot 207 apresenta linhas e detalhes únicos. Com um visual harmônico e robusto, a traseira possui uma área com linhas alongadas no pára-choque destacada na cor preta. Duas lanternas de neblina traseiras expressam a personalidade. O emblema e o protetor de placa são cromados, conferindo um toque suplementar de elegância.

As rodas em alumínio ganharam um design dinâmico e esportivo, nas opções de 14″, para a versão XR Sport, e 15″, para as versões XS. O 207 Quiksilver respira ainda mais esportividade com sua grade do pára-choque dianteiro com pintura metálica. Os faróis de neblina dianteiros completam o visual.

No design interno do Peugeot 207 se destaca pelo painel inspirado nos mostradores de motos. O painel de instrumentos tem um conjunto de três mostradores circulares que lembram mecanismos de precisão. O acabamento interno traz uma textura inédita nos veículos Peugeot que pode ser vista na parte inferior do painel de instrumentos, no porta-luvas, nos painéis das portas, no console e nos bancos. As saídas de ar em moldura cromada dão o toque final.

 

Peugeot Hoggar

Peugeot Hoggar combina a robustez de um utilitário com um design moderno 9imagem no Max)

Peugeot Hoggar combina a robustez de um utilitário com um design moderno (imagem no Max)

 

Para conceber a pickup Peugeot Hoggar, totalmente desenvolvida no Brasil, os designers se preocuparam em combinar a robustez de um utilitário com um design moderno para oferecer o conforto aos usuários. “A Hoggar materializa força por meio de seus faróis e pára-choques marcantes e, a traseira, com sua caçamba esportiva de grande volume, traduz um status robusto”, explicam os designers.

A parte dianteira é marcada pelo grupo ótico e, de acordo com a versão, faróis de máscara negra expressivos se alongam pela lateral evidenciando o olhar felino do modelo – representando o olhar do leão que é o símbolo da marca Peugeot. Além disso, para obter mais equilíbrio entre força e estilo a Peugeot Hoggar traz step side de dupla função que facilita o acesso à caçamba e faz a troca de ar da cabine. Também tem janela corrediça no vidro traseiro da cabine, barra de teto e rodas de alumínio 15”, de acordo com a versão.

Dentro da pickup Peugeot Hoggar os designers se preocuparam também com o conforto, a amplitude e a modernidade para oferecer ao motorista mais prazer em dirigir. O console apresenta textura diferenciada, agradável ao toque, os vidros laterais melhoram a visão periférica dos ocupantes e contribuem para a harmonia estética do modelo.

http://www.psa-peugeot-citroen.com.br

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