A difícil implantação de uma metodologia em design
Postado em: 23 / 03 / 2011
Felipe Garcia
Quando o produto é mais importante que o projeto
Desde o início, quando entramos na Universidade somos bombardeados por informações e influências vindas de todas as partes. Porém, na maioria dos cursos como no meu, Desenho Industrial, a maioria dos jovens não sabe de que se trata o curso ou o que fará quando sair dele.
Digo isso porque demoramos um tempo até formarmos nossa personalidade dentro da faculdade e nossas opiniões, isso depende muito dos professores e de quão somos informados e de quanto estamos dispostos a correr atrás das informações e não esperarmos elas virem até nós, como a maioria pensa e espera muito de qualquer curso ou instituição.
Começo minha coluna introduzindo esse assunto porque no começo de nossa vida profissional vamos formando opiniões e nossa própria metodologia, nossa própria verdade sobre o que é design e o porquê estamos aqui prestando esse serviço ainda tão pouco valorizado especialmente em nosso país.
Quando cursamos as corriqueiras disciplinas “Projeto do Produto” ou “Desenvolvimento do Projeto do Produto”, como queira, estamos, na verdade tendo a primeira experiência, mesmo que mágica, do que é desenvolver um projeto de design. Falo “mágica”, porque muitas vezes as situações, prazos e projetos são tão fictícios que os alunos pensam que realmente é daquela maneira, ou seja, aquela “metodologia” é a correta ou que só existe aquela que ele está aprendendo.
No começo da faculdade, quando estava no terceiro semestre (de oito, pelo Mackenzie), comecei a estagiar em um escritório de design de embalagem e pude observar que algumas diretrizes que eram dadas em sala de aula realmente aconteciam. Porém, ficavam em sua totalidade na teoria, pois, na prática a realidade era bem diferente.
Levava isso aos professores de plantão que sempre me atendiam quando esse chato que aqui escreve ia sempre perguntar os “porquês” do design e, os professores que realmente atuavam no mercado, prontamente sempre me deram ótimas orientações de como agir, fazer e executar em várias ocasiões. Ao mesmo tempo, ensinavam-me a tão importante e essencial base teórica projetual.
Ao longo dos três anos seguintes de faculdade fui construindo várias metodologias e sendo influenciado por diversas partes, tanto da universidade (quem nunca leu Bruno Munari?) quanto das empresas em que eu estagiava. Assim pude tirar grande proveito de várias áreas do conhecimento e também entender como o design entra nesse imenso e complexo quebra-cabeça que é a estratégia de lançamento de um produto dentro de uma empresa.
Com isso, depois de quase seis anos projetando e entendo como é projetar, tive a oportunidade de montar a minha própria empresa e achava que poderia colocar em prática todo o conhecimento adquirido, ou seja, criar uma metodologia própria com o objetivo de tornar isso um fator de diferenciação em meio a tantos bons escritórios já existentes no mercado.
Perguntávamos: Como nos diferenciar? Com um processo que durou cerca de sete meses criamos uma metodologia em nossa empresa, mas de uma maneira que o empresariado entendesse nosso trabalho e nosso valor e, com isso conquistaríamos o nosso espaço no mercado e, por consequência, nos destacaríamos da concorrência.
Colocando em prática nosso “método” fomos a campo e testamos. De cara obtivemos bons resultados quanto a prazos, fases do projeto e implementação do nosso método nas diversas áreas das empresas. Porém, como falei no começo dessa coluna, que sofri diversas influências positivas, críticas construtivas e opiniões de profissionais do mercado, desta vez não foi diferente. Porém, agora com muito mais embasamento e entendimento profissional.
Essa intervenção aconteceu com um de nossos clientes de grande porte que atendemos. Fomos chamados para desenvolver dois grandes projetos de produto e seguimos com a nossa metodologia criada na agência a partir de bases projetuais que deram certo, por acertos e desacertos. Porém, no que chamamos de primeira fase de projeto ou de amadurecimento projetual, o cliente já esperava uma fase muito mais avançada de projeto.
Toda aquela metodologia que explicamos a ele não o atendia. Apesar de ter concordado e aceitado nosso método, para ele e para o momento de sua empresa não se encaixava. Tivemos que mudar o nosso método, nosso código e nossa maneira de enxergar design e, ao menos por um momento, pensar com a cabeça do cliente e não de fornecedores.
Para nós designers, um projeto sem pesquisa, sem base teórica e mercadológica, seguido de uma necessidade de mercado e estratégia de posicionamento não tem sentido de existir, mas para o cliente, que tem o mesmo conhecimento de todos esses fatores acima relacionados, não é importante. O importante para ele é o produto, não o projeto. Concordemos ou não.
O fato é que a empresa é líder em seu segmento há mais de dez anos! Como discordar de sua metodologia? Como não crer que seu efetivo método não dará certo desta vez? Por isso, digo que somos privilegiados em nossa profissão. Sou um rato de livrarias, blogs especializados em design, comunidades, fóruns de tendências, mesas-redondas de inovação e confesso que tenho aprendido demais por esses canais, mas nada como bater de frente com o problema!
Agora com quase dez anos de carreira, depois de fazer inúmeros projetos ainda temos muito a aprender! Isso me motiva cada vez mais a entender todo esse processo que envolve o desenvolvimento de um produto, um nascimento que às vezes é de parto normal, às vezes é cesariana e muitos deles de complicação. É isso que move o designer a entender cada vez mais de antropologia, psicologia, administração, tendências e sociologia.
Agora talvez eu saiba o que é a mágica projetual que comentei no começo da nossa conversa. Pois é, mágica, e mágica enquanto não sabemos o seu segredo somos movidos pela fascinação de sua arte, o projeto.
Felipe Garcia é mestrando em Artes Visuais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e pós-graduado em Master Industrial Design pelo Instituto Europeo di Design, bacharel em Design de Produto pela Universidade Mackenzie. De 1999 a 2001 trabalhou como designer de jóias e teve trabalhos produzidos por H. Stern e Vivara. Atuou em escritórios de design de embalagem nos quais desenvolveu trabalhos para Danone, Niasi, Adria, Bic, 3M, Pepsico, CSN, entre outros. Trabalhou durante dois anos no estúdio de design da BSH Continental Eletrodomésticos no qual desenvolveu conceitos globais das marcas Bosch e Continental. Há 4 anos fundou a FF Design Studio e desde então atua nas áreas de design gráfico, de produto, embalagem, entre outras. Também é professor e coordenador adjunto do curso de Design de Produto do Instituto Europeo di Design e professor da Universidade Paulista.