Conheça a história e as criações do Centro de Design da VW
Postado em: 17 / 05 / 2011
Maria Edicy Moreira
“Deixamos de ser visitantes para fazermos parte da força intelectual do design mundial da Volkswagen. Hoje temos uma cadeira cativa no país que faz os melhores automóveis do mundo (Alemanha). Isso tem um valor incalculável para nós”, afirma Luiz Alberto Veiga, gerente executivo do Centro de Design da Volkswagen do Brasil.
Em entrevista ao BDxpert Veiga fala da importância dessa cadeira cativa conquistada pelo o Centro de Design da Volkswagen do Brasil dentro do Centro de Design da matriz da montadora na Alemanha, graças à sua intervenção enquanto passava uma temporada de residência em Wolfsburg.
“Em 2008 fundei o Volkswagen do Brasil Design Corner, um estúdio brasileiro permanente dentro do Centro de Design da Volkswagen em Wolfsburg. A partir daí passamos a ter designers e técnicos residentes e um grande volume de viajantes todos os anos para a Alemanha. Com isso, estamos alinhados quanto à linguagem de design da matriz.”
Depois de dedicar quase uma vida ao design de automóveis, Veiga tem cada vez mais consciência de que o desenvolvimento de um automóvel exige muito trabalho, muita pesquisa, muita tentativa e erro e ideias para surpreender e proporcionar conforto ao usuário. “O automóvel é o produto mais sofisticado que um ser humano comum pode comprar. É composto por cerca de 4000 peças e é extremamente complexo”, diz Veiga.
Então, se desenhar automóveis é um processo tão complexo, é melhor começar a buscar novas e antigas formas de aprender desde cedo. Por isso, Veiga sugere aos jovens designers que se interessam ou estão chegando ao mundo do design de automóveis: Desenhar, desenhar, desenhar, esculpir, ler, fuçar, ser curioso, pesquisar, desenhar, desenhar, aprender desenho ortogonal, algum software para desenho em 3D (Alias, Rhinoceros), navegar na Internet em busca do tema e desenhar.
Veiga reconhece que a adoção das tecnologias para design e projeto de automóveis deu uma grande contribuição para facilitar o trabalho dos designers e tornar os automóveis mais confortáveis e bonitos. “O grande salto no nosso Centro de Design ocorreu na década de 90 quando a tecnologia começou a ser usada de forma maciça. As ferramentas digitais para desenvolvimento de superfície matemática e previsões estruturais, aerodinâmicas e de performance mudaram completamente a maneira de se construir um automóvel – hoje mais seguro, confortável e bonito.”
Veja a seguir a íntegra da entrevista:
BDxpert – Hoje, quais são os preceitos que hoje regem o design de automóveis?
Luiz Alberto Veiga – Os preceitos não são muito diferentes dos do passado: muito trabalho e muita pesquisa. O design automobilístico é feito basicamente de tentativa e erro e de ideias, que têm que ser materializadas em algo físico. E isso só acontece colocando a mão na massa, ou melhor, no Clay, material usado para realizar os modelos concebidos pelos designers. (Clay é uma espécie de argila usada para modelar em tamanho real os automóveis imaginados pelos designers).
BDxpert – Quais são as diferenças entre desenhar um automóvel e outro produto de consumo ou eletrodoméstico, por exemplo?
Luiz Alberto Veiga – O automóvel é o produto mais sofisticado que um ser humano pode comprar. É composto por cerca de 4000 peças e é extremamente complexo. Quem desenha um automóvel, desenha qualquer outro produto. Já o contrário, não se pode afirmar.
BDxpert – O que é preciso fazer para atender aos novos desejos dos consumidores?
Luiz Alberto Veiga – O consumidor quer ser surpreendido, e isso as clínicas de mercado nunca vão mostrar o caminho 100% correto. Nós especialistas é que temos que surpreender e proporcionar conforto ao usuário, mas é claro que os parâmetros de ergonomia, funcionalidade e conforto são regras, e na Volkswagen muito rígidas. Essas regras precisam ser atingidas ou ultrapassadas.
BDxpert – E na Volkswagen, como isso ocorre?
Luiz Alberto Veiga – Na nova linguagem de design da Volkswagen, queremos mostrar a precisão e a qualidade dos nossos produtos. A linguagem tem que ser simples, porém, forte, sólida e elegante. O consumidor deve ser atraído por um produto equilibrado e de performance exemplar.
BDxpert – Quanto o projeto do Fox contribuiu para aproximar o Centro de design do Brasil da matriz na Alemanha e para o intercâmbio de designers como ocorreu com você?
Luiz Alberto Veiga – O Fox foi um programa muito importante para nós, pois chamou a atenção da matriz para nossa capacidade de gerar um produto novo e de grande potencial. O intercâmbio sempre existiu, mas no geral estávamos lá para ouvir. Depois do Fox, eles também começaram a nos escutar e nos respeitar como iguais. Hoje temos uma relação muito boa com a matriz e somos vistos como profissionais capacitados, criativos, flexíveis e apaixonados. Além disso, o astral brasileiro é muito bem aceito, especialmente na Alemanha.
BDxpert – Como está esse intercâmbio hoje e qual é a importância dele?
Luiz Alberto Veiga – Eu fundei, em 2008 o Volkswagen do Brasil Design Corner, que é um estúdio brasileiro permanente dentro do Centro de Design da Volkswagen em Wolfsburg. A partir daí, temos designers e técnicos residentes e um volume grande de viajantes todos os anos para lá. Com isso, estamos alinhados quanto à linguagem de design da matriz e deixamos de ser visitantes para fazermos parte da força intelectual do design mundial da marca. Nossos projetos fluem muito melhor com esse posto avançado e estamos com uma cadeira cativa no país que faz os melhores automóveis do mundo. Isso tem um valor incalculável para nós.
BDxpert – Desde quando vocês têm o centro de design no Brasil?
Luiz Alberto Veiga – O primeiro Centro de Design da Volkswagen do Brasil surgiu em 1965, na fábrica da Anchieta, chefiado pelo Sr. Hix, o primeiro chefe de design da Volkswagen no Brasil.
BDxpert – Quantas pessoas trabalham no Centro de Design do Brasil?
Luiz Alberto Veiga – Hoje, temos 78 pessoas que trabalham diretamente no departamento de design entre designers de produto, designers gráficos, designers de moda, modeladores, tapeceiros, especialistas em superfícies matemáticas, e técnicos em package, software de apresentações 3D…
BDxpert – Quais foram os projetos mais marcantes concebidos no Centro de Design brasileiro?
Luiz Alberto Veiga – O Gol (lançado em 1980) e o Fox (lançado em 2003) são nossos “queridinhos”, assim como os derivados dessas duas famílias.
BDxpert – Como vocês conciliam as necessidades do mercado local com as do mercado global na hora de desenhar um automóvel no Brasil?
Luiz Alberto Veiga – O ser humano é o mesmo no Brasil, no Japão, na África ou na Alemanha. O básico e fundamental têm que estar lá. As variantes vêm em função do mercado, que está avançando bem no Brasil.
BDxpert – Como você definiria o gosto do brasileiro em relação ao design dos automóveis?
Luiz Alberto Veiga – Não vejo diferença em relação a países avançados. O brasileiro tem muito bom gosto, grandes artistas e arquitetos, assim como os melhores músicos do mundo. Ele é também apaixonado por automóveis, o que representa para nós, mobilidade.
BDxpert – Quais são os segredos para atender ao gosto do brasileiro?
Luiz Alberto Veiga – Produto bem feito, que funcione sempre e com novidades que o surpreenda.
BDxpert – Nos últimos anos o número de fabricantes de automóveis no Brasil e o desenvolvimento de produtos nacionais se multiplicaram de forma acentuada. Como isso interferiu e interfere no design de automóveis no Brasil e na Volkswagen?
Luiz Alberto Veiga – A Volkswagen tem mais de meio século desenhando automóveis no Brasil. A grande mudança começou a ocorrer na década de 90, com o início de uso maciço da tecnologia digital, que não parou mais de evoluir. Com ela, podemos construir o automóvel virtual e analisá-lo em 3D muito antes de iniciarmos o protótipo. Isso proporciona mais rapidez, qualidade e precisão, garantindo um projeto de alta qualidade e extremamente confiável. As ferramentas digitais para desenvolvimento de superfície matemática e previsões estruturais, aerodinâmicas e performance mudaram completamente a maneira de se construir um automóvel – hoje mais seguro, confortável e bonito.
BDxpert – Quais softwares vocês usam para desenhar e projetar os automóveis?
Luiz Alberto Veiga – Os principais são Photoshop, Alias, Icem Surf, Catia, DeltaGen, Ramsis e CorelDraw.
BDxpert – Qual é a importância do Centro de Realidade Virtual (VRC)?
Luiz Alberto Veiga – É uma ferramenta muito importante para desenvolvermos o veículo digital. No VRC, podemos reunir todas as áreas da companhia e avaliar o status do projeto, assim como nos reunirmos com colegas da Alemanha e acompanharmos em tempo real desenhos e projetos complexos.
BDxpert – Que softwares vocês usam para visualizar o design dos automóveis no VRC?
Luiz Alberto Veiga – As superfícies matemáticas (classe A) são geradas com o Icem Surf, que é o melhor software para essa aplicação. As características de superfícies (cor, brilho, texturas, transparências) são aplicadas com o auxílio do DeltaGen.
BDxpert – Como é conviver com a crescente concorrência no mercado brasileiro?
Luiz Alberto Veiga – A vida no mundo do design é muito dura, ao contrário do que alguns possam imaginar. Para combater a concorrência, temos que trabalhar muito e muito duro, pois nosso objetivo é sempre oferecer o melhor produto do mercado.
BDxpert – O fato de a Volkswagen ter chegado primeiro com seu Centro de Design lhe confere vantagens ou hoje a concorrência é dura para todos?
Luiz Alberto Veiga – A concorrência é dura para todos. Mais importante do que ser o primeiro a chegar, é sempre se manter atualizado e criativo.
BDxpert – O que você diria aos jovens designers que se interessam ou estão chegando ao mercado de design de automóveis?
Luiz Alberto Veiga – Desenhar, desenhar, desenhar, esculpir, ler, fuçar, ser curioso, pesquisar, desenhar, desenhar, aprender desenho ortogonal, algum software para desenho em 3D (Alias, Rhinoceros), navegar na Internet atrás do tema e desenhar…