Cenário competitivo exige intimidade com clientes
Postado em: 16 / 01 / 2012
Fábio Mestriner
Já se foi o tempo em que se acreditava que o maior patrimônio da empresa eram suas fábricas e equipamentos. Exibir a imagem da fábrica em rótulos, embalagens, anúncios, folhetos e na própria logomarca da empresa era um expediente muito utilizado para mostrar a força e o orgulho da empresa.
Com o surgimento do marketing, essa postura mudou. Novos conceitos foram sendo gradualmente apresentados e a visão do mundo a partir da fábrica e da produção, passou a ser substituída pela visão do mercado, este sim, considerado o cenário decisivo para o olhar da empresa, pois é lá que todas as oportunidades se encontram e não na fábrica que a empresa tem.
Com o advento do marketing, a marca passou a ser considerada o maior patrimônio da empresa, pois é na marca que está consolidado tudo o que a empresa é e significa. O consumidor enxerga na marca de uma empresa um aval que desperta confiança no produto que ele está comprando e vai muito além disso, já que a marca consegue agregar o valor percebido fazendo com que o consumidor aceite pagar mais por um produto graças ao prestígio e a imagem da marca da empresa que o produziu.
Assim, verificamos que um carro com a marca Mercedes Benz vale 20% mais que um modelo equivalente da BMW, um pouco mais do que isso em relação a um carro japonês e mais ainda em relação a um carro coreano, apesar de todos os modelos aqui mencionados serem equivalentes e terem qualidade. O aval da marca faz com o consumidor aceite pagar preços diferentes por produtos similares. Um tênis da marca Nike, chega a custar o dobro e até o triplo do preço de um tênis comum.
Diferente das empresas que viam em suas fábricas seu grande patrimônio e orgulho, a Nike não tem fábricas. Ela cria o design dos produtos, gera especificações técnicas para confecção e encomenda a produção em diversos países do mundo. Um modelo que foi adotado por muitas empresas que acabaram transformando a China em uma plataforma de produção das principais grifes do planeta.
Graças a novos paradigmas como este e também graças à similaridade tecnológica que tem tornado os produtos cada vez mais semelhantes, foi eliminada uma parte do valor atribuído originalmente ao aval da marca como garantia de qualidade, pois a qualidade passou a ser uma commodity. Hoje, grande maioria dos produtos atuais tem qualidade equivalente.
Nesse processo de evolução dos conceitos, a marca, entendida como principal valor de uma empresa passou a ser gradualmente substituída pelo entendimento de que o maior patrimônio de uma empresa, “é a qualidade do relacionamento que ela mantém com seus clientes”.
Esse conceito surgiu da percepção de que as marcas mudam, são vendidas, se fundem com outras, mas o que não muda e que mantém a empresa de pé são os clientes que ela conquistou e que se mantêm fiéis, apesar das mudanças e de um cenário competitivo cada vez mais conturbado. A aliança com os clientes e o relacionamento duradouro são as bases de sustentação de qualquer empresa, seja uma loja de esquina ou um grande conglomerado multinacional.
O que está acontecendo hoje, é que as empresas que ainda não perceberam essa mudança de conceito começam a apresentar problemas, pois sem o apoio e a fidelidade de seus clientes elas se tornam vulneráveis a uma infinidade de ofertas que recebem de todos os lados.
Philip Kotler, o grande guru do marketing em palestra realizada para os professores da ESPM em novembro do ano de 2011, foi categórico sobre isso ao afirmar que: “Nenhuma empresa alcança o sucesso sem o apoio de seus clientes”. Assim, faz todo sentido afirmar que no novo cenário competitivo, o que vai fazer diferença de fato, é a qualidade dos relacionamentos que a empresa mantiver com seus clientes. Não resta dúvida sobre isso.
Como ensinam os grandes filósofos, a consciência precede a ação. Uma vez que nos tornamos conscientes da necessidade de estabelecer relacionamentos de melhor qualidade com nossos clientes, a primeira coisa que precisamos saber é conhecer melhor os negócios deles.
Estou cansado de ver empresas e vendedores que não conhecem direito os negócios de seus clientes, não sabem, por exemplo, quem são os clientes de seus clientes e o consumidor final de seu produto. Vejo muitas empresas que não sabem que competem no mercado por intermédio dos produtos que chegam até o consumidor, seja nas gôndolas dos supermercados ou nas lojas e acham que concorrem apenas com outras agências e através dos serviços que fornecem a seus clientes.
Sem conhecer o processo completo até a chegada do produto ao consumidor final, fica difícil avaliar a importância que nosso produto tem para o negócio de nosso cliente e atribuir valor ao que fornecemos. Para vender bem, é preciso conhecer bem os detalhes que envolvem o processo como um todo, da folha de papel com o conceito, ao produto final na casa do consumidor.
Precisamos nos interessar de verdade pela competição em que nosso cliente está envolvido. Só assim poderemos nos tornar parceiros estratégicos nessa competição e não apenas fornecedores de um componente de produção. Quando conhecemos o processo, o valor estratégico do que fornecemos pode então ser apresentado como um diferencial competitivo, tornando melhor a qualidade do relacionamento que mantemos.
Conhecer o cliente na intimidade de seu negócio, estar perto dele o tempo todo, é o que vai fazer diferença na competição acirrada de agora em diante. Empresas e profissionais que desejam ter sucesso no futuro devem compreender perfeitamente que o maior valor de uma empresa e de um profissional, está na qualidade dos relacionamentos que mantiverem com seus clientes.
A vitória nesse novo cenário competitivo pertencerá a quem se dedicar de verdade a manter e melhorar constantemente esses relacionamentos por meio do conhecimento profundo do cliente e da intimidade que conseguir estabelecer com ele.
Fabio Mestriner é professor-coordenador do Núcleo de Estudos da Embalagem ESPM, coordenador do Comitê de Estudos Estratégicos da ABRE e autor dos livros Design de Embalagem Curso Avançado e Gestão Estratégica de Embalagem.