Inventores, cientistas e até robô dão show na SolidWorks World
Postado em: 24 / 02 / 2012
Maria Edicy Moreira
A conferência de usuários, SolidWorks World 2012, que aconteceu entre os dias 12 e 15 de fevereiro, em San Diego, CA, não economizou em convidados especiais como Ben Kaufman, da Quirky, comunidade online que investe nos inventores; Tony Fadell, inventor de iPod e CEO da Nest; Bruno Maisonnier, da Aldebaran Robotics, que fornece robôs educativos; Maia Hoeberechts, cientista especialista em pesquisas marinhas, da Neptuno Canada; e Mike Rowe, apresentador do programa “Dirty Jobs”, no Discovery Channel.
Famosos nas áreas em que atuam, essas personalidades compartilharam com os 5.650 participantes da SolidWorks World 2012 suas experiências e conhecimentos relacionados à invenção coletiva de produtos, novas tecnologias, robôs, pesquisas marinhas e trabalho sujo, quase sempre com foco em comunidades online e/ou em questões sociais.
Além disso, usuários, revendedores e especialistas em tecnologias de todo o mundo aproveitaram a extensa programação de seções técnicas, apresentações de cases e palestras para aprender mais sobre os produtos SolidWorks, fazer networking e conhecer as estratégias da SolidWorks em relação aos seus produtos e ao mercado.
Invenções coletivas
Ben Kauffman apresentou sua empresa, Quirky, de New York, que surgiu para democratizar e viabilizar a invenção de novos produtos por pessoas que tenham ideias criativas em qualquer parte do mundo. Kaufman observou que durante séculos, a vida do “inventor” sempre foi osso duro de roer. As complexidades relacionadas a financiamentos, engenharia, distribuição e questões legais criavam barreiras quase instransponíveis para pessoas brilhantes que tentaram executar suas grandes idéias, por isso, decidiu fazer alguma coisa para mudar essa realidade.
Em 2009 fundou a Quirky, que rapidamente começou a mudar a maneira como o mundo vê a invenção de produtos e seus autores. Apoiada em uma comunidade online www.quirky.com, com mais de 200 mil participantes cadastrados, a Quirky é uma plataforma global de inventores. “O mundo influencia o nosso negócio em tempo real e partilhamos as nossas receitas diretamente com as pessoas que nos ajudaram a viabilizar ideia criativas.”
A ideia deu tão certo que a cada duas semanas a Quirky lança dois novos produtos concebidos por inventores de todo o mundo. Ao todo já foram lançados mais de 300 produtos. “Permitimos uma conversa fluida entre a comunidade global e nossos designers e engenheiros que ajudam a aprimorar as sugestões dos inventores”, diz Kaufman.
Veja como funciona a extensão Pivot Power que a Quorky transformou em produto comercial
O processo na Quirky funciona da seguinte forma: pessoas de qualquer parte do mundo postam suas idéias sobre produtos inovadores, mediante o pagamento de $ 10,00, e passam a receber dos participantes da comunidade global críticas, sugestões e novas ideias sobre o design, nome do produto etc. para aprimorar o invento.
Os advogados da empresa verificam se o produto é realmente inédito e, caso não haja patenes anteriores, cuidam dos registros legais do produto, enquanto outras equipes buscam financiamentos e cuidam da fabricação e comercialização do produto. A divulgação dos inventos é feita pela própria comunidade. “Os participantes dos projetos acabam ajudando na divulgação dos produtos espontaneamente. Não existe melhor sensação do que dizer: “Eu ajudei a fazer isso”, diz Kaufman.
Além da remuneração do inventor, cada participante recebe uma contribuição por ter ajudado a aprimorar o invento. O valor varia de acordo com um ranking definido pelo site, podendo variar entre alguns centavos por unidade vendida até alguns dólares. O dinheiro vem de uma porcentagem de 10% sobre as vendas em lojas físicas (grandes varejistas como Toys R Us, Target e Barnes and Nobles, nos EUA) e 30% pelas vendas na loja online.
Entre os produtos apresentados por Ben Kaufman, durante a conferência da SolidWorks, está a extensão elétrica Pivot Power articulável que permite conectar vários tipos de adaptadores ao mesmo tempo sem bloquear nenhuma tomada. Além disso, o invento gira em torno de móveis e acessa lugares difíceis de alcançar. Com mais 200 mil unidades vendidas a cada em seis meses a Pivot Power custa $ 23,00.
A propriedade intelectual do produto pertence à Quirky, que registra todos os inventos que viabiliza comercialmente. O idealizador da Pivot Power é um estudante de 20 anos de Milwaulkee, que recebeu $ 28 mil. As 708 pessoas que contribuíram com o desenvolvimento do produto também foram remuneradas com valores que vão de centavos a alguns dólares de acordo com sua contribuição.
Outra invenção, fruto da criação coletiva da Quirky, é a Ventu, uma tigela que serve para escorrer e servir massas. Também pode ser usada para tirar o excesso de umidade de frutas e saladas. Basta girar a alça para alternar entre o escorredor e a tigela sem vazamentos para servir a massa ou salada. A Ventu custa $ 22,00.
Para os amantes do vinho a Quirky lançou o Verseur um sistema de multiferramentas que combina tudo de que você precisa para abrir, servir e conservar seus vinhos favoritos. Além de um saca-rolhas fácil de usar, o Verseur também inclui um cortador de folhas, um bico de tampa e uma tampa de vedação para manter a garrafa fechada.
Nest
Tony Fadell, criador do iPod, chamou a atenção ao falar de sua mais nova invenção, um termostato que promete mudar o conceito desse instrumento usando sua inteligência para ajudar a economizar energia e garantir o bem-estar de seus usuários.
Depois de sair da Apple, Fadell fundou a Nest, que concebeu o primeiro termostato inteligente. O Nest Learning Thermostat, lançado em outubro de 2011, aprende sobre seu dono e a casa em que ele vive. Se desliga automaticamente quando o dono não está em casa e orienta sobre temperaturas que poupam energia, eliminando a incômoda tarefa de programar temperaturas.
O empresário repetiu com o Nest o mesmo conceito minimalista do iPod, investindo em design e tecnologias para tornar o termostato – um equipamento sem graça e desconhecido do grande público – objeto do desejo para as massas. Não é mera coincidência que a operação do Nest é feita girando um botão, lembrando o iPod. Apesar disso, Fadell diz que começou o projeto do zero. “O hardware é lindo, de fácil instalação, o software é totalmente integrado e o Nest pode ser controlado a partir de um smartphone.”
Ao que parece, o designer não se importa em ser chamado de louco por causa da sua nova invenção que, segundo ele, chega para aproveitar a cultura criada pela Apple. “Quando eu disse que meu próximo projeto era um termostato, me disseram que eu estava louco, mas nós criamos um termostato para a geração iPhone.”
A ideia, segundo ele, é oferecer mais que um produto bonito, é oferecer aquecimento e arrefecimento com a possibilidade de reduzir a conta de energia pela metade. “Todo mundo está pensando verde, trocando suas lâmpadas, mas isso é uma gota no oceano se comparado ao que poderia salvar em energia com nosso termostato.”
Fadell tem pela frente o desafio de popularizar o Nest e um grande mercado a ser explorado. Segundo ele, o mercado de termostatos nos Estados Unidos é de $ 250 milhões, porém, 90% das vezes o consumidor não decide nem se importa com a marca que vai usar. Por enquanto o Nest está à venda apenas nos Estados Unidos, em lojas como a Best Buy e sai por $ 249,00. www.nest.com
NAO/Zariguim
Um dos personagens que mais chamou a atenção durante a SolidWorks World 2012 foi o robozinho NAO, que já é bem conhecido dos brasileiros por ter participado da novela “Morde & Assopra”, da TV Globo, como o divertido Zariguim. Usado, inclusive, no videoclip de abertura da conferência da SolidWorks, o robô foi apresentado por Bruno Maisonnier, CEO da Aldebaran Robotics.
O NAO é um humanoide desenvolvido pela empresa francesa Aldebaran Robotics em parceria com a pesquisadora Lola Cañamero, da Universidade de Heltfordshire, na Inglaterra, e outros pesquisadores, para um projeto iniciado em 2005. De acordo com seus criadores, o NAO é o primeiro robô a expressar emoções, e foi criado inicialmente para fazer companhia a crianças diabéticas em hospitais, contribuindo para o bem-estar emocional delas. Também já foi usado para ajudar crianças autistas.
Hoje o NAO é muito utilizado para fins acadêmicos. Totalmente interativo e divertido o robozinho está em permanente evolução, podendo ser usado por estudantes de todos os níveis. Desenvolve diferentes vínculos com as pessoas, se adapta às emoções das pessoas com que convive e pode demonstrar preferência por uma ou outra pessoa.
Conheça as habilidades do robozinho humanoide NAO
Explorando STEM (sigla do inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), o NAO incentiva os alunos a descobrir e explorar a aprendizagem, resolver problemas e desenvolver atividades em equipe. “A robótica é uma das mais recentes inovações tecnológicas, e um robô humanoide é uma ferramenta de aprendizagem ideal para os alunos conectarem a teoria com a prática e descobrir um vasto leque de campos relacionados à robótica, tais como ciência da computação, engenharia e matemática”, disse Maisonnier.
O NAO também permite aos professores integrar o trabalho em equipe, fazer gestão de projetos, resolverem problemas e desenvolver habilidades de comunicação em um ambiente estimulante. Também oferece flexibilidade para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares.
O robozinho foi criado a partir da observação da forma como os bebês chimpanzés e humanos criam laços com quem cuida deles. Seu comportamento corresponde ao de uma criança de dois anos. Quando está triste, ele abaixa a cabeça e contrai os ombros, por exemplo. Alegre, estica os braços como quem pede um abraço.
Pesquisas marinhas online
As pesquisas sobre o mar também estão se beneficiando das comunidades online. A cientista Maia Hoeberechts, apresentou o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Neptune Canada, uma comunidade online (www.neptunecanada.ca) em tempo real que traz aos cientistas a possibilidade de responder a eventos raros oceânicas, observar a mudança do oceano ao longo de décadas, e ajustar experiências de amostragem ao longo do tempo, tudo pela Internet.
Assim a Neptuno abre aos pesquisadores oportunidades de colaboração internacional e estudos interdisciplinares de geologia, física, química e sistemas biológicos em uma escala verdadeiramente única. Cientistas em todo o Canadá e ao redor do mundo estão participando de grupos de pesquisa de forma colaborativa planejando e realizando projetos em tempo real, como se estivessem no local onde as pesquisas são realizadas. É possível, por exemplo, acompanhar robôs no fundo do mar e analisar as informações coletadas por eles.
Trabalho sujo
Mike Rowe, apresentador do programa “Dirty Jobs” (Trabalho Sujo) no Discovery Channel, defendeu os profissionais que fazem trabalhos sujos como aqueles que trabalham na construção civil, na mineração, em fazendas, em frigoríficos, em turnos noturnos das montadoras de automóveis e muitos outros que são personagens de seu programa. http://dsc.discovery.com/tv/dirty-jobs/
Para Rowe existem dois mundos do trabalho: o white color (dos escritórios) e o blue color (o trabalho “sujo”) que é tão importante quanto o primeiro, não exige fazer universidade por quatro anos e tem, nos Estados Unidos, uma carência enorme de mão-de-obra.
Graças à popularidade que conquistou com seu programa Mike Rowe lançou, em 2008, o site www.mikeroweworks.com e a Fundação mikeroweWORKS, ambos para defender quem se dedica ao trabalho ”sujo”. Sua finalidade é chamar a atenção para o déficit de trabalhadores dispostos a encarar o trabalho “sujo” e fornecer apoio e recursos a quem deseja explorar suas vocações nesse campo e desenvolver uma carreira. A Fundação tem dado bolsas de ferramentas e bolsas de estudo a organizações como a Fundação AED e a SkillsUSA.