Melhor inovar o produto no que é percebido pelo consumidor
Postado em: 14 / 06 / 2012
Fábio Mestriner
Muitas das inovações apresentadas pela indústria, não são sequer percebidas pelos consumidor ou não fazem sentido para ele.
Inovações geradas por cientistas, pesquisadores e especialistas que trabalham nos departamentos de P & D ou as inovações concebidas pelas grandes empresas, muitas vezes esbarram no que chamamos de “visão especializada”, ou seja, na visão dos que conhecem bem o assunto e sabem que estão propondo algo diferente do que está sendo oferecido pelo mercado, mas que acabam não sendo percebidas ou compreendidas pelos consumidores
Poucos são os segmentos de produtos de consumo que estão tão ligados à inovação quanto os setores de cosméticos e produtos de limpeza doméstica. Inúmeros lançamentos pelo mundo têm trazido uma relação interminável de novidades vindas desses dois setores. Quando se fala em inovação, imediatamente nos vem à mente ideias novas, criatividade, tecnologia de ponta, atitudes, pessoas inovadoras e coisas do gênero. Hoje existem poucas coisas mais comentadas que a inovação e, praticamente todas as empresas já sabem que em algum momento terão de tratar do assunto.
Porém, quando as empresas partem em busca da inovação muitas perguntas precisam ser respondidas: O que elas encontram? Que caminho acabam seguindo? A quem elas recorrem? Em primeiro lugar, as empresas encontram um mundo de informações dispersas sobre o assunto, muitas vezes contraditórias e sem uma orientação clara que possa indicar o melhor caminho a seguir.
Não temos ainda muitos livros e autores consagrados que possam iluminar o tema, mas há obras com abordagens diversas que tratam de aspectos da inovação. Os consultores e empresas especializadas em inovação ainda são em número insuficiente para atender à grande necessidade que as organizações têm desse tipo de ação. Enfim, falta metodologia de aplicação e empresas e profissionais especializados para se incumbir da inovação.
Tudo isso forma um painel que nos leva a concluir que a inovação, apesar de sua importância crucial para o futuro dos negócios, no Brasil ela ainda carece de muitas coisas para se tornar uma realidade efetiva, acessível para a grande maioria das empresas. É preciso encontrar novos caminhos mais acessíveis para que as empresas brasileiras tenham acesso à inovação.
Apesar das muitas dificuldades, se voltarmos no tempo, verificamos que o tema inovação entrou definitivamente em pauta nas últimas décadas e aos poucos vai encontrando seu caminho no mundo corporativo que se conscientiza de sua importância para o sucesso dos negócios.
Veja abaixo o vídeo em que Robert Cooper apresenta a metodologia Stage & Gates
Em 1982 uma pesquisa da Bozz Allen mostrou que metade dos produtos lançados nos EUA falhava. Em 1985 Robert Cooper lançou a metodologia Stage & Gates que propunha um processo de condução dos projetos destinados a lançar novos produtos e rapidamente foi adotada pelas grandes empresas, fazendo com que em 2003, 73% das empresas americanas já tivessem adotado a metodologia.
A metodologia Stage & Gates foi adaptada para os programas de inovação sendo também a metodologia mais utilizada atualmente para esta finalidade. Em 1991 surgiu em Palo Alto, no Vale do Silício, Califórnia, aquela que se transformaria em uma das mais influentes empresas dedicadas a inovação. A Ideo, fundada por David Kelley, desenvolveu um método inovador de trabalho que se tornou uma das referências mundiais sendo adotada por empresas e escolas que passaram a utilizá-la em seus programas de ensino.
O livro “The Art of Innovation”, lançado por Tom Kelley, irmão de David e atual gerente geral da Ideo, é um dos livros mais importantes sobre o tema, e tem servido de base para muitas iniciativas nesta área. O que essas duas metodologias têm em comum é que ambas adotam o brainstorm como ferramenta para a geração de idéias que depois serão selecionadas e desenvolvidas.
Em 2002 um estudo realizado pela AC Nielsen, apresentado no Congresso Brasileiro de Embalagem, mostrou que 80% dos produtos de consumo lançados no Brasil saíam do mercado em até dois anos, devido ao marketing insuficiente aplicado a esses produtos, à falta de inovação e de benefícios para o consumidor. Essa pesquisa estimulou os professores do Núcleo de Estudos da Embalagem da ESPM a trabalharem em uma nova abordagem para um programa de inovação de embalagem que contribuísse para a redução da mortalidade dos novos produtos.
Essa metodologia parte do princípio de que a combinação de uma inovação que traga algum benefício perceptível aos olhos do consumidor aumenta consideravelmente a chance de sucesso do novo produto. O ponto de partida desse programa é a compreensão profunda do valor que o consumidor percebe. O sucesso da inovação está justamente em apresentar algo novo, mas que traga ao mesmo tempo algum valor efetivo, compreensível e capaz de ser percebido claramente pelo consumidor, seguindo assim um caminho mais objetivo para o projeto e para a inovação.
A descoberta do valor que a inovação traz para o consumidor abre uma nova perspectiva de trabalho para os profissionais de marketing e para todos que atuam ou se interessam pelo tema. Sua metodologia de aplicação vai permitir às nossas empresas a ingressarem nesse fascinante mundo, não importa seu tamanho ou os recursos de que dispõe.
Fábio Mestriner é professor e coordenador do Núcleo de Estudos da Embalagem ESPM; coordenador do Comitê de Estudos Estratégicos da ABRE e autor dos livros: Design de Embalagem Curso Avançado e Gestão Estratégica de Embalagem