A importância cultural da gravura para o design gráfico

Postado em: 22 / 07 / 2012

Fábio Mestriner

Fábio Mestriner

Fábio Mestriner

“A diferença dos grandes profissionais é que eles sabem mais sobre a profissão a que se dedicam”

A frase acima foi a resposta dada pelo cirurgião real da coroa britânica quando perguntado qual era a diferença entre o cirurgião real e os demais. Em sua resposta ele afirmou que o grande cirurgião, além de executar com precisão as cirurgias, deve saber mais sobre cirurgia que os cirurgiões comuns.

O conhecimento sobre a profissão torna o trabalho do profissional mais qualificado e amplia seus horizontes. Aqueles que desejam ir mais longe em seu trabalho precisam conhecer a história, a evolução e as grandes conquistas da atividade que escolheu. Precisam conhecer o trabalho dos grandes mestres que ajudaram a forjá-la. Só assim se tornaram parte do grupo que faz com que a profissão permaneça viva e em constante evolução.

Uma vez li em algum lugar que os pilotos dos aviões da Lufthansa passam por treinamentos periódicos em que reciclam e atualizam seus conhecimentos para permanecerem no topo de sua atividade. Durante o treinamento eles também voam em planadores para não perder a capacidade de conduzir uma aeronave mesmo sem motor, afinal, ainda que contem com toda a tecnologia, um piloto de avião deve saber voar sem ela.

Representação da técnica de gravura em metal

Técnica da gravura em metal

Neste momento em que a indústria gráfica atravessa grandes transformações tecnológicas, os profissionais do setor e do design gráfico estão enfrentando novos desafios, pois cada vez mais os equipamentos estão repletos de dispositivos eletrônicos e a impressão digital veio para ficar.

A introdução deste artigo serve para lembrar que um gráfico, mesmo trabalhando com equipamentos eletrônicos e digitais, não deve abrir mão do conhecimento fundamental que fez desta profissão, uma das que mais contribuíram para a difusão do conhecimento e para o progresso da humanidade.

O conhecimento sobre a gravura e sua contribuição para a cultura nas artes gráficas e na sociedade como um todo, deve estar entre as preocupações daqueles que desejam se tornar grandes profissionais, pois ela é a base de tudo o no setor. Gravar uma matriz, entintá-la e transferir a imagem para o suporte, constitui a essência dessa atividade. Esse procedimento resistiu à passagem dos séculos até nossos dias com poucas alterações, pois seus fundamentos permanecem. 

 

Gravura em metal de Dürer: A Morte, o Cavaleiro e o Diabo

Gravura em metal concebida por Dürer: A Morte, o Cavaleiro e o Diabo

Litografia de Kunstformen der Natur (Ernst Haeckel)

Litografia de Kunstformen der Natur concebida por Ernst Haeckel

Desde quuando os monges budistas na China começaram a produzir impressões com uma matriz de madeira (xilogravura) gravada por volta do ano 670, até as mais modernas impressoras de hoje, ainda gravamos uma matriz, aplicamos sobre ela a tinta e a pressionamos contra uma folha de papel.

A gravura em madeira, pedra ou metal, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da arte e na difusão do conhecimento que transformou a sociedade e o mundo em que vivemos. Sua história riquíssima em acontecimentos e personagens merece ser conhecida e suas práticas artísticas precisam ser prestigiadas tanto pelo setor quanto pelos profissionais que o constituem, pois é ela que mantém viva a alma das artes gráficas.

As escolas de design, artes plásticas, arquitetura e desenho ainda mantêm ateliês que ensinam as técnicas básicas da gravura; museus e pinacotecas mantém alguns cursos e ateliês. Existem clubes de colecionadores e galerias de arte ainda ativos, mas essa atividade não pode deixar de ser promovida para se manter viva e para continuar evoluindo.

Uma gravura artística, assinada por um artista reconhecido, é a forma de maior valor que uma folha de papel pode alcançar, pois existem gravuras que alcançam valores de dezenas de milhares de dólares. Nem o dinheiro impresso em papel moeda, alcança valor semelhante.

 

Litrografia de Sunsh? Ejiri é uma das suas 36 vistas do Monte Fiji, Japão, criadas pelo autor

Litrografia de Sunsh? Ejiri é uma das 36 vistas do Monte Fuji, criadas pelo autor, publicada em 1930

A cultura da gravura é importante para quem atua neste setor e deve merecer de todos os que nele atuam, ou dos que tem afinidade e amor pelas artes gráficas, uma grande consideração e respeito, pois o futuro desta atividade passa pela valorização de sua história e da contribuição que ela deu para o desenvolvimento da cultura. A essência de uma atividade contém o DNA que permite que ela se reproduza, atividades e profissões extintas começaram a morrer quando abriram mão de sua história e deixaram de cultivar os fundamentos que a fizeram existir.

 

Xilografia a Grande Onda de Kanagawa Hokusai, especialista em ukiyo-e, publicada em 1830

Xilografia a Grande Onda de Kanagawa Hokusai, especialista em ukiyo-e, publicada em 1830

Fábio Mestriner é professor coordenador do Núcleo de Estudos da Embalagem ESPM; professor coordenador do curso de Pós-Graduação em Gestão da Indústria Gráfica da Sustentare Escola de Negócios em Joinville SC; coordenador do Comitê de Estudos Estratégicos da ABRE – Associação Brasileira de Embalagem; e autor dos livros Design de Embalagem Curso Avançado e Gestão Estratégica de Embalagem.

Compartilhe

Be Sociable, Share!

Comentar