Veiga, da Volkswagen, fala da evolução do design automotivo

Postado em: 18 / 04 / 2015

Luiz Alberto Veiga: 35 anos de experiência em design

Luiz Alberto Veiga: 35 anos de experiência em design

Luiz Alberto Veiga, que já liderou a criação de automóveis Volkswagen com design brasileiro como Gol, Voyage, Parati, Saveiro e Fox, diz que hoje não há mais espaço para a concepção de automóveis com design para mercados locais. “Design brasileiro já não pega muito. Com a globalização da indústria automobilística o design também foi globalizado. No caso da Volkswagen as ideias para a concepção de novos automóveis são centralizadas no Centro de Design da matriz na Alemanha.”

Porém, o designer lembra que isso não quer dizer que os desejos dos consumidores dos mercados locais sejam ignorados. O Centro de Design da matriz da Volkswagen na Alemanha trabalha em conexão com os Centros de Design locais do Brasil, Estados Unidos e China, incluindo, na medida do possível, as demandas locais.

“Nossa matriz reuniu as regiões de uma maneira interessante  para que elas participem dos projetos globais, trazendo o que é importante para os consumidores locais. A ideia é fazer carros globais, mas dando atenção às regiões, atuando em parceria com nossos centros de design no Brasil, Estados Unidos e China”, diz Veiga.

Sobre o futuro dos automóveis, o designer diz que no caso da Volkswagen isso significa quatro anos, que é o tempo de desenvolvimento de um novo modelo. É nesse período que é possível ter uma visão mais clara sobre como será o próximo lançamento. É quando os designers começam a trabalhar em uma criação que eles têm realmente consciência do que vão usar em termos de materiais, de produção e de tecnologia. E também se o carro vai ser híbrido ou elétrico… “Depois disso é bola de cristal”, afirma Veiga.

Automóveis autônomos

Desafiado a falar sobre a bola de cristal, Veiga diz que existem várias visões mais ou menos positivas que estarão nos automóveis do futuro. “Vamos ter mais carros híbridos, mais carros elétricos e essas mudanças vão interferir no design dos novos modelos. Para o futuro eu vejo também os carros que vão andar sozinhos. Você vai programar e o carro vai te levar para onde você quiser, sem precisar dirigir.”

Assim as pessoas poderão usar o tempo que passam no trânsito para infotainment: assistir a filmes, se comunicar e adquirir informações pela Internet.” Segundo ele, o grande foco das pesquisas para o desenvolvimento dos carros do futuro estará nas tecnologias voltadas à oferta de informação, entretenimento e assistência à direção.

Veiga lembra que, na verdade a tecnologia para a fabricação de carros autônomos já existe, a própria Volkswagen e outras montadoras já têm várias tecnologias nesse sentido, mas não produzem os automóveis em série porque não existem leis que regulamentem o uso desses modelos. Se o carro estiver se autoconduzindo e acontecer um acidente, de quem é a culpa? Esse é um dos entraves, entre outras questões. “Já existem todos os elementos para o carro autônomo acontecer, mas o seu uso ainda depende de questões legais.”

Enquanto os carros autônomos não chegam, as muitas tecnologias de bordo disponíveis hoje ficam bloqueadas enquanto o motorista dirige para evitar acidentes. Hoje o uso das tecnologias de infotainment como Internet, telefone, exibição de filmes é muito perigoso porque distrai o motorista. “A Volkswagen tem várias tecnologias, mas não libera nenhum filme e nenhuma tela enquanto o motorista está dirigindo. Porém, isso vai mudar quando chegarem os carros autônomos. As pessoas vão poder usar seu tempo para fazer outras coisas”, afirma Veiga.

Golf GTI já procura vaga no estacionamento e estaciona sozinho

Golf GTI já procura vaga no estacionamento, estaciona sozinho e depois volta para buscar o dono para sair

O designer conta que há quatro anos a Volkswagen já levou um carro sem motorista de Volksburg até Frankfurt na Alemanha. Além disso, a montadora já tem no mercado carros inteligentes como o Golf GTI que têm radar, sensores, a tecnologia sender e comunicação via satélite. Isso permite que ao chegar ao estacionamento de um shopping, por exemplo, o motorista pressione um ícone no celular e o carro saia sozinho, procure a vaga e estacione. Quando o dono sai do shopping pressiona um ícone no celular e o carro volta para busca-lo na porta do elevador. Além disso, o Golf GTI e o Passat têm um programa que garante que esses modelos nunca batam no carro da frente. Na iminência disso acontecer, o carro reduz a velocidade a ponto de parar sem que o motorista pise algum pedal.

DNA da marca

Perguntado sobre os desafios que essas e outras evoluções tecnológicas trazem aos designers na hora de conceber um novo automóvel, Veiga diz que é difícil prever o que vai acontecer no longo prazo, por isso quando vai desenvolver um novo carro a Volkswagen trabalha com várias opções de design e depois filtra um modelo final que irá para linha de produção. Outra solução encontrada pela montadora, para evitar erros na hora de conceber um novo modelo, é focar no DNA da marca.

“Como designer da Volkswagen sempre me preocupo com o DNA da marca. Não adianta eu ficar olhando o que a concorrência fez para fazer igual, aquela marca é uma marca e a minha é outra. Eu já tenho 12 marcas dentro do grupo Volkswagen (Volkswagen, Audi, SEAT, ŠKODA, Bentley, Bugatti, Lamborghini, Porsche, Ducati, Volkswagen Veículos Comerciais, Scania e MAN) e tenho que ter uma diferenciação do que é um Volkswagen e do que é um Audi, por exemplo. Não adianta a Audi fazer uma coisa legal e eu querer copiar. A Audi é uma coisa e a Volkswagen é outra”, afirma Veiga.

Por isso, Veiga diz que é preciso continuar seguindo o DNA da marca e não colocando linhas e formas absurdas que não têm nada a ver. “Esse é o grande desafio para qualquer designer, a não ser que ele esteja começando uma marca, nesse caso ele ainda não tem que seguir um DNA e pode ousar mais, mas se for uma marca consolidada e de prestígio como as da Volkswagen temos que focar no DNA.”

Gol e Voyage estão entre os projetos locais que Veiga ajudou a criar para o Brasil

Gol e Voyage estão entre os projetos com design local que Veiga ajudou a criar para o Brasil

Softwares

A evolução dos softwares usados para desenhar os automóveis  está contribuindo para melhorar a relação entre os designers e os engenheiros. As mudanças que eram feitas pelos departamentos de engenharia e de produção para solucionar problemas técnicos e de produção, que muitas vezes mutilavam o design concebido pelo Centro de Design e causavam muito mal estar entre designers e engenheiros, estão saindo de cena graças à evolução dos softwares de design e visualização por realidade virtual.

“A engenharia moderna tem um contato muito íntimo com o design. Nós temos engenheiros e técnicos especialistas dentro do departamento de design auxiliando os designers do ponto de vista da viabilidade técnica. Hoje o designer não é só um escultor, quando ele vai desenhar um carro tem dentro do próprio departamento de design, engenheiros que orientam sob o ponto de vista da viabilidade técnica de projeto e produção desde a fase inicial de concepção”, diz Veiga.

Segundo ele, atualmente o design tem até certa primazia. Se o Centro de Design criou uma forma, os engenheiros vão fazer todo o possível para que ela seja viabilizada tanto do ponto de vista de projeto quanto de produção. “Hoje existe uma mentalidade muito diferente do passado quando havia muita guerra entre o design e a engenharia. Hoje os dois setores trabalham muito mais em sintonia.”

Veiga conta que essa guerra do passado ocorria porque os processos de design eram muito manuais. Não existiam os softwares de hoje e, por isso, as criações dos designers ficavam vulneráveis. Muitas vezes o design aprovava um carro que entrava na engenharia e produção como uma “banana” e saía como uma “maçã”.

“Quando o design do carro era aprovado a engenharia, de uma maneira escondida, começava a mudar o projeto para facilitar a vida dos engenheiros. Depois a produção mudava mais um pouquinho para facilitar a produção. Então aquele carro desenhado originalmente chegava ao mercado todo mutilado.”

Com a chegada dos novos softwares de design, criação de superfícies classe A, simulação e realidade virtual, a Volkswagen criou um processo de desenvolvimento que começa pelo design, mas desde o início tem profissionais da engenharia, planejamento de fábrica e processos de produção envolvidos. Esse processo foi criado em cima de superfícies matemáticas concebidas com o auxílio desses softwares.

Veiga explica que depois de dois anos de estudos, design e visualização no centro de realidade virtual, em parceria com as engenharias, diretorias e marketing, o projeto é aprovado pela diretoria plena da montadora e congelado, criando o “clay frozen”, que depois de aprovado ninguém mais pode mudar. Os softwares usados no Centro de Design permitem que apenas os designers tenham controle sobre a superfície matemática (design) concebida para o novo automóvel.

“Nos primeiros dois anos trabalhamos muito com o carro virtual até chegarmos ao (clay frozen). Depois são mais dois anos de trabalho para viabilizar a produção, mas o design chega ao projeto final exatamente como era no clay frozen, dois anos antes.” A Volkswagen do Brasil usa em seu Centro de Design softwares como: Alias, da Autodesk, para concepção do design; Icem Surf, para criação de superfícies classe A e Deltagen, para experiências com realidade virtual, sendo os dois últimos da Dassault Systèmes).

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