Temos que exportar alimentos processados e embalados
Postado em: 10 / 11 / 2010
Fábio Mestriner
Nós trabalhamos muito. Aramos a terra, adubamos, plantamos e esperamos a chuva, pedindo aos céus uma boa colheita. Criamos os animais, produzimos o leite, colhemos as frutas, entre outros produtos agrícolas, em uma quantidade tal que nosso país se tornou um dos maiores exportadores mundiais de alimentos.
Fazemos tudo isso com tecnologia e grande competência, mas na hora de comercializar a produção, entregamos de bom grado o que produzimos pelo menor valor possível, na forma de commodities agrícolas. Não é preciso ser especialista para perceber que algo está errado nisso.
Na ESPM temos um Núcleo de Estudos de Marketing do Agronegócio que dispõe de um grande acervo de dados sobre o tema. Sabemos que a carne, produto em que o Brasil é o maior exportador mundial, quando vendida industrializada, alcança valores acima do dobro do preço da carne in natura. O café industrializado agrega ainda mais valor, o mesmo acontecendo com os sucos, o chocolate e demais produtos cuja matéria-prima, o mundo vem comprar aqui.
Como estratégia de desenvolvimento nacional voltada à geração de empregos, trabalho e renda, para a valorização da nossa produção agrícola e para o progresso da nossa economia, precisamos mudar de atitude. Precisamos transformar uma grande parcela do que produzimos e vendê-la na forma de produto industrializado com embalagem bem cuidada.
Isso é tão evidente que sempre me vem a pergunta: O que está faltando para que o Brasil perceba que pode obter grande vantagem competitiva, elevando suas commodities agrícolas à condição de produto acabado? Porque os responsáveis pelo planejamento estratégico e pela política industrial do país não investem nesse projeto como deveriam?
Dispomos de uma indústria de embalagem altamente qualificada, capaz de oferecer todo tipo de itens para a produção de embalagens de alta qualidade e valor agregado. Produzimos as matérias-primas necessárias para os mais variados tipos de embalagem.
Temos bons designers, premiados nos principais concursos nacionais e internacionais para desenhar as embalagens de exportação e temos escolas e instituições como a Escola de Engenharia Mauá e o Cetea – Centro de Tecnologia da Embalagem para gerar mão de obra qualificada e a tecnologia necessária para estas funções.
As indústrias de alimentos aqui instaladas estão em condições de competir em qualquer parte do mundo com produtos de qualidade a preços competitivos, mas ainda está faltando alguma coisa para que a exportação de alimentos processados e embalados realmente deslanche.
Como acadêmicos sabemos que em qualquer atividade, a conscientização precede a ação e o planejamento, garante que as ações sejam executadas com eficácia. Faltam-nos conscientização e planejamento nesta questão e, por isso, o assunto não avança como deveria.
Exemplos não faltam para demonstrar quantos são os benefícios do que estamos propondo. Precisamos agregar valor e melhorar a competitividade internacional da nossa produção agrícola com embalagens que tornem nossos produtos desejados no mundo todo.
A cadeia produtiva da embalagem tem muito a ganhar com isso e deve se mobilizar para ajudar a conscientizar empresários, associações, instituições públicas e privadas e as organizações do setor produtivo sobre as grandes oportunidades que estamos deixando passar. Esse tema precisa entrar na pauta do setor, afinal a embalagem existe para agregar valor ao produto, para torná-lo mais competitivo.
A embalagem existe para atender às necessidades e aos anseios da sociedade e com ela evoluir ao longo do tempo. O Brasil já deixou de ser uma nação agrícola, precisa atuar no cenário internacional de forma diferente. O Brasil precisa de embalagem.
Fábio Mestriner é professor coordenador do Núcleo de Estudos da Embalagem ESPM; professor do curso de Pós-Graduação em Engenharia de Embalagem da Escola de Engenharia Mauá; cordenador do Comitê de Estudos Estratégicos da ABRE e autor dos livros Design de Embalagem Curso Avançado e Gestão Estratégica de Embalagem.