Entenda as diversas faces e processos da criatividade

Postado em: 14 / 07 / 2010

Sérgio Casa Nova, colunista do BDxpert.com

Sérgio Casa Nova, colunista do BDxpert.com

 
O designer e educador na área de design, Sérgio Casa Nova, é nosso novo colunista. Ele irá escrever mensalmente artigos sobre diversos assuntos ligados ao design. Neste seu primeiro artigo ele analisa as diversas faces e processos da criatividade. Veja a seguir:  

 

Por Sérgio Casa Nova

Em seu livro, “Criatividade & Marketing”, Roberto Duailibi e Harry Simonsen Jr. relatam: A criatividade tem sido confundida com a técnica de criar anúncios, ou ainda, por meio de uma alienação apoiada no princípio da “feliz ignorância”, libertando o criador do conhecimento anterior, para poder propor soluções inovadoras: nada mais enganoso. Simplesmente, a criatividade é definida como uma técnica para resolver problemas, eu acrescentaria: de maneira inovadora.

Essa técnica pode ser aplicada a todas as atividades humanas, não apenas às atividades mais liberais, mas também podem ser aplicadas à medicina, à sociologia, ao marketing, às finanças, à educação, à produção artística ou à produção científica: de alfinetes até usinas nucleares.

Toda empresa é uma solução criativa para uma angústia gerada por um problema, o empreendedor identifica uma necessidade não atendida ou mal satisfeita e vê nela uma oportunidade de negócios. A atividade criadora é sempre precedida por esta angústia.

Freud já havia definido a criatividade como originaria de um conflito dentro do inconsciente. Mais cedo ou mais tarde o inconsciente produz uma solução para este conflito. Ainda segundo Freud: O homem feliz jamais fantasia, mas o insatisfeito sim, os instintos insatisfeitos são as forças que impulsionam as fantasias e cada fantasia é uma satisfação dos desejos, uma retificação de uma realidade insatisfatória.

Max Wertheimer, o grande teórico da Gestalt, afirma: O pensamento criador é fundamentalmente uma reconstrução de configurações estruturalmente deficientes. As soluções criativas resultam da liberação de energias necessárias à eliminação dessa angústia.

Segundo Duailibi e Simonsen a criatividade é um processo muito mais Heurístico do que Algorítmico. Um algoritmo é uma regra uma heurística, uma descoberta, do grego “heurisken” (descoberta). Pode ser uma verdade circunstancial, não é comprovável, é, por exemplo, a solução obtida por tentativa e erro, ou por seleção e conexão ou ainda por conexão e mudança associativa.

É encontrada na sabedoria popular, a heurística admite a contradição que está dentro dela como, por exemplo: Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga, contra, Deus ajuda a quem cedo madruga.

Koetler afirma que a criatividade aplicada à ciência, à arte, ao humor ou aos negócios segue o mesmo caminho. Criatividade significa dar existência a algo novo, único, original e pode assumir duas formas: invenção ou descoberta.

A invenção (ou inovação) quando por associação de dois ou mais fatores aparentemente não associáveis, díspares, chega-se a um terceiro fator que têm parte dos anteriores, mas que é novo. A descoberta ocorre quando se percebe algo já existente e se verbaliza essa constatação, seja através de uma definição, seja por meio de uma equação ou fórmula matemática.

 

Questionamentos sobre a criatividade

Questionamentos sobre a criatividade

O processo mental criativo desenvolve-se em várias etapas: O Desejo ou a Identificação, a Preparação, a Manipulação, a Incubação, a Antecipação, a Iluminação, e a Verificação.

  • O desejo ou a identificação – Ao identificar algum problema não resolvido, por qualquer razão, a pessoa deve querer criar algo original. Isso é uma atitude frente a um problema.
  • Preparação – O indivíduo passa a acumular dados sobre o problema, direta e conscientemente ou indiretamente e inconscientemente motivado pelo interesse ou curiosidade natural.
  • Manipulação – O cérebro inconscientemente começa a organizar os dados como forma de entender realmente o problema.
  • Incubação – Ocorre de forma inconsciente e o cérebro continua a ordenar e articular as informações aparentemente desconexas, muitos autores chamam esta fase de caos, devido à angústia residente nas pessoas.
  • Aquecimento ou Antecipação – Quando começa a haver um sentimento de euforia com a premonição de que o problema está prestes a ser resolvido.
  • Iluminação – A solução do problema surge, é o fim da angústia.
  • A verificação – É a confirmação da validade da solução, de sua efetividade.

No período de aquecimento, é fundamental que seja conhecido o funcionamento da mente criativa na busca da organização dos dados, nas suas articulações inconscientes em que está sendo gerada a solução, isso ocorre por meio da associação de idéias.

A associação de idéias é basicamente a soma da imaginação com a memória, os gregos já haviam estabelecido quatro leis para a associação de idéias:

  • Contiguidade
  • Semelhança
  • Sucessão
  • Contraste

 

A mente opera de acordo com as funções do cérebro humano, absorvendo as informações recebidas, retendo-as através da memória, criando por meio da visualização, julgando, analisando e, comparando. No entanto, a educação de algumas sociedades tem a característica de bloquear o processo mental criativo desenvolvendo a prática de se utilizar apenas três partes das funções da mente.

Muitas pessoas, nos cursos primários e secundários se lembram de ter enfrentado provas e avaliações que validavam apenas a capacidade de absorção, retenção (memória) e julgamento. Disciplinas decorativas ou provas de múltipla escolha agem como força bloqueadora da imaginação e da criatividade.

Curiosamente Duailibi e Simonsen fazem referência a Ferdinand Porsche, como provavelmente o mais criativo designer de automóveis, devido às suas inovações. Foi um dos primeiros a pensar em uma carroceria monobloco, entre outras idéias, e também um dos primeiros a conceber um carro simples e econômico que perdurou por décadas.

Algumas técnicas podem estimular a criatividade e a produção de soluções inovadoras, mas o conceito básico de quase todos estes processos reside na técnica de adiar o julgamento para não cercear a produção criativa:

NA HORA DE CRIAR, CRIAR. NA HORA DE JULGAR, JULGAR.

Perguntas técnicas que ajudam a chegar à criatividade

Perguntas técnicas que ajudam a chegar à criatividade

 

  • Brainstorm (Tempestade de idéias) – O próprio nome já induz ao entendimento do que é a técnica, trata-se de uma técnica de reunião com pessoas interessadas na solução inovadora do problema. Tem como característica a completa ausência de críticas e a técnica do julgamento adiada. Enfaticamente não são permitidas observações como: isso não vai dar certo, já foi tentado antes, ou sorrisos irônicos. Todas as idéias que surgirem serão anotadas, mas nunca serão julgadas na mesma hora. 
  • Reverse Brainstorm (Tempestade de idéias ao contrário) –  Seria realmente o inverso do brainstorm, trata-se de uma reunião com objetivo de encontrar defeitos nas idéias existentes, criticar o estabelecido, aqui é proibido defender, explicar ou justificar os defeitos apontados. Desta forma é possível gerar novas idéias em contraposição aos defeitos ou aperfeiçoar aquilo que se julgava bom.
  • Synecticos É talvez a única técnica que não é baseada no julgamento adiado, criada por Bill Gordon, é uma reunião de especialistas multidisciplinares, profundos conhecedores de cada um dos aspectos envolvidos no problema, mas complementares uns aos outros. Funciona pelo princípio da associação de idéias aparentemente irrelevantes, que em um processo sinérgico de aproximações sucessivas por meio das participações de cada um no encaminhamento das soluções em suas especialidades.
  • Brainstorm individual – É mesma técnica do brainstorm, porém é individual, mais do que uma técnica é uma atitude pessoal frente ao problema, exige treinamento e disciplina para ser desenvolvida.
  • O Estudo dos Centro Criativos – Não é propriamente uma técnica, mas trata-se de um estudo para explicar porque em algumas épocas e locais específicos ocorre uma explosão criativa, alguns exemplos: a Paris do início do século, psicólogos em Viena, Matemáticos em Budapeste, ou ainda os humoristas e músicos no Rio de Janeiro na década de sessenta, e como implantar este ambiente nas empresas.

Kaminski em sua análise sobre a criatividade afirma que é necessária em todas as atividades humanas, portanto, também é imprescindível no desenvolvimento do produto, e pode ser desenvolvida individualmente, em grupos ou sistematicamente nas empresas e entidades.

O processo criativo individual é desenvolvido por meio de um processo chamado de Variação às escuras e Sobrevivência seletiva (Kaminski), ou seja, a partir de algumas informações iniciais, são formuladas algumas alternativas aleatórias das quais se aproveitam as mais viáveis, por exemplo:

  • Combinação de elementos – é a aplicação deliberada de arranjos e combinações dos elementos do produto como forma de proposição de novas alternativas.
  • Análises de características – é a análise de cada um dos atributos de um projeto de modo a evidenciar cada aspecto para ser modificado.

Outros processos são coletivos, como:

  • Brainstorm (tempestade de idéias), que é basicamente uma reunião de interessados, em que idéias são geradas aleatoriamente e a crítica é feita posteriormente.
  • Metódica Cinética, o processo é realizado por meio de uma reunião de pessoas que são estimuladas a abandonar o ponto de vista tradicional, a fim de obterem algo original com relação ao assunto abordado.

A primeira conclusão e talvez a mais importante é de que a criação e o julgamento nunca devem ser exercidos ao mesmo tempo, mas também existem outros fatores que bloqueiam o processo criativo:

  • A pressão para conformar-se, quando as novas idéias são sempre recebidas com temor e desconfiança, existe uma pressão auto-indulgente para o estabelecido.
  • Atitudes em ambiente excessivamente autoritários, identificáveis no comportamento das pessoas em algumas empresas e ambientes sociais.
  • Medo do ridículo, quando em alguns ambientes as pessoas desenvolvem um medo excessivo por correr riscos, ocorre quando os erros são inexoravelmente punidos, ou ridicularizados pelos colegas e superiores, desenvolve-se um processo que também é chamado de apologia da omissão caracterizado pela justificativa: A minha parte eu fiz, o resto eu não quero nem saber.
  • Intolerância com atitudes mais joviais, em ambientes que exigem uma atitude séria e compenetrada.
  • Excesso de ênfase nas recompensas e sucesso imediato, quando em alguns ambientes a eficácia é recompensada exageradamente, e é caracterizada pelo comportamento heróico de seus dirigentes.
  • Busca excessiva da certeza, é também uma atitude muito parecida com o medo do ridículo, quando o ambiente induz à conclusão que é melhor não fazer nada do que tentar sem ter certeza.
  • Hostilidade com a personalidade divergente, a sabedoria já nos ensinou que a oposição pode ser salutar, porque induz a repensar e a mudar, por mais irritante que possa parecer. Se manifesta na atitude de muitos dirigentes.
  • Falta de tempo para pensar, há ambientes que sobrecarregam excessivamente seus participantes como forma de eficiência.
  • Rigidez nas organizações ocorre em ambientes excessivamente controlados por normas e procedimentos.

 

Sérgio Casa Nova é designer de produto, pós-graduado em Marketing Management & Advertising, pela SUNY- State University of New York, e mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP. Atuou por mais de 36 anos no desenvolvimento de produtos e processos em indústrias de brinquedos, automóveis e joias. No ensino superior privado, atuou por mais de vinte anos como professor e coordenador de cursos de Design. Fundou a empresa, S. Casa Nova Design, dedicada ao design e engenharia aplicada ao desenvolvimento de produtos e negócios.

sergio_nova@uol.com.br

sergionova@vivax.com.br

scasnova@sc.usp.br

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