“O Brasil ainda precisa evoluir em termos de cursos de design”
Postado em: 26 / 07 / 2010
Maria Edicy Moreira
“O Brasil ainda precisa evoluir em termos de cursos de design. Na área de gerenciamento de projetos, por exemplo, ainda não temos muitos profissionais competentes. Há também um entendimento superficial sobre as palavras que ficam “na moda” como o “design thinking”. As pessoas parecem esperar soluções mágicas, e o design se faz a partir de muita dedicação e trabalho”. Essa é a visão do especialista em planejamento estratégico e desenvolvimento de cursos de graduação do SENAC-SP, Alécio Rossi.
Em entrevista ao BDxpert.com Rossi, que concebeu, implantou e coordenou os cursos de design do Centro Universitário SENAC-SP, chamou a atenção também para a fragilidade da relação entre os profissionais de design e a indústria. Bons projetos exigem a dedicação de muitos profissionais que trabalham de forma integrada e, a indústria ainda não tem mecanismos para estimular essa integração.”
Preocupado com o foco generalista que o MEC tem imposto aos cursos de Design, Alécio Rossi diz que é preciso considerar a realidade do mercado. O Estado de São Paulo, por exemplo, permite uma formação mais direcionada, composta por uma base de Design com aprendizado sobre projetos e conhecimentos específicos nas áreas de Design de Moda, Gráfico e de Interfaces Digitais em diferentes grupos de estudos e interesses.
Rossi é defensor da pluralidade cultural na formação dos designers e do estímulo ao risco. Para ele um dos maiores desafios para as escolas de design é ampliar o repertório cultural e formar profissionais que não tenham medo de ariscar-se ao novo. Para ele, as exigências do mercado são imediatistas e não permitem a experimentação. Por isso, a escola deve permitir a pesquisa e a tentativa e erro, pois são esses processos que estimulam os alunos a avançar.
Formado em artes plásticas, pela ECA – Escola de Comunicação e Artes da USP –, Rossi despertou seu interesse pelo design quando ainda era estudante e, junto com um colega abriu um escritório de design gráfico no qual trabalhou por nove anos.
A experiência de empresário o conduziu à outra área do design, a educação. Em 1999 foi convidado pelo Centro Universitário SENAC-SP para conceber e implantar o curso de Design Gráfico, que foi lançado em 2000.
Alécio cuidou ainda da concepção e implantação de outros cursos na área de design como Design de Multimídia, Comunicação Visual, Design Industrial e de Interfaces Digitais e, atuou como coordenador dos cursos de design até chegar à área de planejamento estratégico.
Veja a seguir a íntegra da entrevista:
BDxpert.com – Como o senhor vê o ensino de design no Brasil?
Alécio Rossi – A oferta de cursos de design ampliou-se muito e, isso tem um lado bom, porque atinge maior número de pessoas; e um lado ruim, porque nem sempre se consegue bom nível de qualidade de profissionais para trabalharem como docentes.
BDxpert.com – O que está muito bom e o que precisa melhorar nos cursos de design?
Alécio Rossi – O número de eventos na área cresceu muito e isso contribui para a qualidade/profundidade da reflexão sobre a área. A relação entre os profissionais e a indústria ainda é muito frágil. Corremos o risco de um entendimento superficial da atividade do designer pela banalização do uso do termo design. Bons projetos, geralmente exigem dedicação de muitos profissionais que trabalham de forma integrada e, a indústria brasileira ainda não tem mecanismos que possam estimular essa integração de profissionais.
BDxpert.com – Hoje podemos dizer que o país já está maduro no ensino dessa disciplina?
Alécio Rossi – O Brasil ainda precisa evoluir em termos de cursos de design . Para gerenciamento de projetos, por exemplo, não temos muitos profissionais competentes. Há também um entendimento superficial sobre as palavras que ficam “na moda” como o “Design Thinking”. As pessoas parecem esperar soluções mágicas e o design se faz a partir de muita dedicação e trabalho.
BDxpert.com – As questões de currículo e nomenclatura dos cursos de design já foram equacionadas ou essas questões ainda são discutidas com o MEC?
Alécio Rossi – Temos vivido um problema bem sério a esse respeito. Para o MEC existe somente uma formação possível para os cursos de design. No site oficial, agora chamado de e-MEC, há somente a formação generalista de design sem considerar a realidade do mercado. O Estado de São Paulo, por exemplo, que permite uma formação mais direcionada composta por uma base de Design, com aprendizado sobre projetos e conhecimentos específicos nas áreas de Design de Moda, Gráfico e de Interfaces Digitais, em diferentes grupos de estudos e interesses.
BDxpert.com – Quais são os desafios para as escolas oferecerem uma boa formação aos alunos?
Alécio Rossi – Ampliar o repertório cultural e formar profissionais que não tenham medo de ariscar-se ao novo. As exigências do mercado são imediatistas e não permitem a experimentação. Por isso, a escola deve permitir a pesquisa e a tentativa e erro, pois são esses processos que estimulam os alunos a avançar.
BDxpert.com – O que o SENAC-SP tem feito nesse sentido?
Alécio Rossi – Nosso método de educação é baseado em Desafios e Projetos. Essas duas ações combinadas promovem naturalmente a integração entre diferentes disciplinas e boas respostas. Procuramos promover eventos, seminários e exposições que possam contribuir com essa formação diferenciada.
BDxpert.com – Quais são as prioridades do SENAC-SP na hora de oferecer seus cursos de design?
Alécio Rossi – Atender com qualidade o maior número de pessoas possível. Ter uma estrutura física que seja estimulante como ambiente de aprendizagem.
BDxpert.com – Além de se dedicar aos estudos, o que os alunos de design precisam fazer na fase estudantil para alcançar o sucesso quando chegarem ao mercado de trabalho?
Alécio Rossi – Ampliar o repertório cultural. Participar de exposições, ir ao cinema, ao teatro, à dança, a shows etc., participar ativamente da produção cultural da cidade e, se possível, do mundo. Devem estar sempre insatisfeitos, inquietos e curiosos ao mesmo tempo, precisam saber trabalhar em equipe, respeitar e compartilhar talentos.
BDxpert.com – O que o SENAC-SP faz para ajudar aos alunos na busca desse sucesso?
Alécio Rossi – Além das atividades complementares que foram desenvolvidas para contribuir com essa formação, estimulamos a participação em concursos e em atividades culturais da cidade. Estimulamos a relação com as indústrias de todas as áreas (gráfica, produtos, entretenimento etc.).
BDxpert.com – Os alunos estão chegando à universidade preparados para acompanhar os cursos de design ou nem tanto?
Alécio Rossi – Demoramos um tempo para “desautomatizar” as respostas. O ensino médio prepara o aluno para o vestibular e para as respostas prontas. A formação no curso superior precisa superar esse mecanismo, ou somente reproduzirá o que já existe e isso não é design, o design projeta o futuro.
BDxpert.com – Caso não cheguem preparados, o que o SENAC-SP tem feito para ajudar a esses alunos a superar as dificuldades?
Alécio Rossi – Nossos cursos começam com um projeto experimental, nessa fase procuramos quebrar os mecanismos de repostas prontas. Não é fácil, às vezes precisamos de um ano para que os alunos entendam que queremos inovação e mais alguns anos para que eles consigam amadurecer para respostas inesperadas. O amadurecimento profissional, geralmente demora um pouco mais.
BDxpert.com – Quando o senhor começou a atuar na área de design?
Alécio Rossi – Comecei a trabalhar como designer quando ainda era estudante de Artes Plásticas na USP. Tivemos algumas disciplinas sobre produção gráfica e sempre tive interesse pessoal pelo assunto. A convite de um colega da ECA – Escola de Comunicação e Artes, da USP – montamos um escritório de design gráfico e trabalhamos juntos por nove anos. Em 1999 fui convidado pelo SENAC-SP para montar um projeto de curso de Design Gráfico quando assumi a coordenar uma equipe de profissionais para a redação do documento a ser encaminhado ao MEC para autorização do curso bacharelado em Design Gráfico. Participei também da seleção de professores e isso possibilitou a formação de uma equipe muito especial de profissionais. Meu trabalho na área de concepção, implantação e coordenação dos cursos de design durou oito anos.
BDxpert.com – Quando foram lançados os cursos de design do SENAC-SP?
A partir de 2000 foram lançados Design Gráfico e Design de Multimídia. Em 2004/2005 reformulamos o curso de design gráfico e abrimos também habilitações em Comunicação Visual, Design Industrial e de Interfaces Digitais
BDxpert.com – O senhor participou da elaboração dos currículos e implantação dos cursos?
Alécio Rossi – Sim, meu papel sempre foi de articulação e coordenação de diferentes especialistas. Procurei fazer com que excelentes profissionais pudessem ter voz e propusessem os conteúdos que julgassem importantes para a formação de profissionais para a área de design. Também fazia parte de meu trabalho alinhar a metodologia aplicada e manter a unidade de reflexão e linhas de pensamento para a formação dos estudantes, estimulando as melhores formas de projetar. Procurei fazer também a articulação entre alunos, professores, meio acadêmico e mercado. Apoiamos, por muitos anos, a ADG (Associação dos Designers Gráficos) e a ADP (Associação dos Designers de Produto), que tiveram papel muito importante na consolidação da profissão em São Paulo e no Brasil.
BDxpert.com – Hoje quais são suas atribuições no SENAC-SP?
Alécio Rossi – Faço parte da equipe de planejamento estratégico e desenvolvimento de cursos de graduação. Lançamos em 2010 o bacharelado em Arquitetura e Urbanismo que está em fase de implantação. Identifico, seleciono e coordeno as reuniões e grupos de trabalho com profissionais de cada área. Para o curso de Arquitetura, por exemplo, reunimos mais de vinte profissionais, a maioria arquitetos, mas também compuseram o grupo antropólogos, fotógrafos, jornalistas e artistas. Participei também de seminário na Inglaterra sobre Arquitetura e Sustentabilidade que foi uma das bases e diferenciais do nosso curso. Procuramos o equilíbrio entre Arquitetura e os impactos de uma ação de Urbanismo.
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Comentários (2)
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