Usando a ergonomia para ampliar as capacidades humanas

Postado em: 21 / 09 / 2010

 

Spergio Casa Nova

Spergio Casa Nova

 Sérgio Casa Nova

O objetivo deste artigo é discutir a metodologia de projeto, entendendo que o objeto do projeto seja um instrumento para ampliar as capacidades humanas. Sob o ponto de vista da ergonomia, não importa a complexidade ou a grandiosidade do objeto, seja ele desde um simples lápis que amplia a capacidade de comunicação do homem, um archote que amplia a capacidade do homem enxergar na escuridão ou um jato supersônico, um super computador ou um porta-aviões.

Todos são objetos, ferramentas, dispositivos e equipamentos que dão ao homem capacidades acima das quais seu corpo poderia realizar. O produto é considerado, sob a visão ergonômica, como um sistema destinado a produzir trabalho sob a forma de movimentação de volumes e massas. Nesta abordagem, o produto é uma ferramenta, um instrumento, a interface entre o ser humano e seu desempenho na sua mobilidade.

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O homem se relaciona com produto como o agente que controla do movimento do veículo, dirigindo, acelerando, freando, engatando marchas, acionando vidros e também como o paciente na condição de ocupante (passageiro), mas que também realiza um trabalho, ao apoiar-se nas acelerações e desacelerações, operando controles auxiliares.

Outra abordagem, necessária sob o ponto de vista da ergonomia se refere ao trabalho de manutenção dos veículos, atualmente nas fábricas modernas os produtos são movimentados por dispositivos de maneira a colocar-se em posição que facilite a montagem da peças pelos operários.

Porém, nas oficinas tradicionais essas mesmas peças estão em posições quase inacessíveis, obrigando os mecânicos a arrastarem-se pelo piso para atingir estas posições; trabalhando em posições que seriam extremamente desconfortáveis. Devemos lembrar que as oficinas modernas já têm equipamentos que facilitam o acesso às peças e componentes dos automóveis.  

Existe uma visão sistêmica relacionada ao planejamento da força de trabalho chamada subsistema de pessoal, em alusão aos demais subsistemas implementados no sistema de produção e trabalho, abordam também as mudanças de enfoques filosóficos no decorrer da história desta ciência, ou seja, a breve história do estudo dos fatores humanos no desenvolvimento de sistemas foi caracterizado pelas quatro fases de mudança de enfoque:

Fase 1– O indivíduo sendo adaptado, por seleção e treinamento, com ênfase primária na máquina, a partir de uma filosofia de concepção orientada para as restrições da máquina (essencialmente uma pré-filosofia).

Fase 2 – Concepção orientada pelo ponto de vista do homem, com uma posição voltada à adaptação da máquina ao homem.

Fase 3 – Uma terceira filosofia (que provavelmente é muito atual) enfatiza o projetar de um sistema no qual exista uma otimização da integração do homem, com foco na realização mais efetiva dos objetivos do sistema. É mais para o sistema orientado para o homem. Esse conceito poderia ser descrito como se cada um dos componentes e os seres humanos fossem utilizados eficazmente, mas com o controle primário do sistema, sendo essencialmente responsabilidade dos seres humanos.

Fase 4 – Mais recentemente surgiu um novo e forte conceito filosófico focado nos valores humanos básicos e na responsabilidade dos indivíduos na criação dos sistemas, instalações e ambientes.

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É muito mais fácil atacar os aspectos específicos da relação homem-máquina de uma lavadora de roupas, um automóvel, um computador, uma britadeira ou um plano de sistema de reservas para linhas aéreas do que atacar o amplo espectro definido por problemas humanos, que surgem no cotidiano das pessoas.

Esses são problemas de relação homem-máquina no sentido mais amplo, envolvendo as responsabilidades civis em relação ao meio sócio-cultural e ambiental. O processo de concepção de sistemas geralmente requer sucessões de decisões, cada uma delas tem efeito subsequente em outras decisões, constituindo-se no processo de iterações do sistema.

Um procedimento que foi proposto, para esse propósito é a Análise de Sistema de Modelo de Integração – ASMI. Enquanto os procedimentos de análise totais são muito extensos para serem apresentados aqui, sua razão central é baseada em um modelo no qual são identificados os efeitos de vários elementos de sistemas, a esta formulação, são caracterizados três tipos diferentes de elementos:

Determinantes de sistema – Elementos que determinam a natureza, forma e limites de um sistema, como sua missão, exigências de desempenho, entradas e limitações.

Componentes do sistema –- Mecanismos, homens, instalações etc. que são internos à forma do sistema.

Integradores de sistemas – Sucessões operacionais, comunicações, organização e estrutura de decisão.

Matriz ASMI

De fato, o método analítico usado no ASMI inclui o uso de uma matriz de todas as combinações de todos os elementos com provisão para interagir e identificar elementos. Trata-se de uma seriação de decisões, sobre a concepção de um console de controle, na qual a decisão anterior afeta a decisão subseqüente:

Decisão 1 – É decidido que para um operador receber informação necessita de um console. Elemento afetado – Display (todos os tipos estão nestes momentos disponíveis, visuais, auditivos, táteis, proprioceptivos).  

Decisão 2 – É decidido que a informação será apresentada visualmente. Elemento afetado – Exibição visual (possíveis tipos são etiqueta, indicador, iluminação, alcance). 

Decisão 3 – A próxima decisão é que a exibição visual será luminosa. Elemento afetado – Exibição luminosa visual.  

Decisão 4 – Display de luz é especificado completamente. Elemento afetado – display visual luminoso especificado em termos de cor, brilho, contraste, configuração, características temporais etc. 

Esse exemplo aplicado ao produto resultaria em uma análise dos postos de comandos do condutor e, envolveria uma análise cognitiva dos mostradores dos instrumentos e dos glifos nos controles.

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Veículos

Em veículos cuja operação apresenta um grau maior de complexidade, como exemplo a operação de implementos rodoviários do tipo: treminhões, rodo-trem, bi-trem, semi-reboques ou até guindastes implementos para mineração, carros de combate, entre outros. Têm extensas ramificações para as funções humanas e nas tarefas que serão requeridas na operação e manutenção do sistema final. Isso necessita de uma Análise de Funções de Tarefas criteriosa. Em tais casos algum procedimento sistemático deve ser adotado.

 O intento desta resenha sobre fatores humanos e ergonomia não é compilar e organizar uma grande quantidade de informações pertinentes e disponíveis, relativas aos comportamentos e aos atributos humanos. A finalidade básica foi focar em certos objetivos mais modestos, que incluem a apresentação de pelo menos alguma informação sobre certas características humanas, como os aspectos do processo moto-sensório, isso poderia contribuir para melhorar o entendimento do comportamento e do desempenho.

Talvez o objetivo subjacente mais importante fosse desenvolver uma sensibilidade aumentada para a consciência dos muitos aspectos humanos dos sistemas e situações que proliferam na operação dos produtos. Tal consciência é pelo menos a primeira condição prévia aos processos subsequentes que criam esses sistemas e situações nas quais poderiam ser utilizados os talentos humanos efetivamente na melhoria do bem-estar.

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Sérgio Casa Nova é designer de produto, pós-graduado em Marketing Management & Advertising, pela SUNY- State University of New York, e mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP. Atuou por mais de 36 anos no desenvolvimento de produtos e processos em indústrias de brinquedos, automóveis e joias. No ensino superior privado, atua há mais de vinte anos como professor e coordenador de cursos de Design. Fundou a empresa, S. Casa Nova Design, dedicada ao design e engenharia aplicada ao desenvolvimento de produtos e negócios.

 

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