O papel social do designer para uma sociedade sustentável
Postado em: 25 / 11 / 2010
Ele define o papel do designer, em um contexto mais global, afirmando que seu papel é construir cenários para estimular a discussão e a inovação, ajudando na regeneração dos aspectos sociais e ambientais da sociedade. Ele acrescenta que o design tem um papel formativo, educativo que ajudará à sociedade a ajustar-se a uma nova realidade. A definição mais recente do termo sustentável é qualidade de vida apoiada nos três pilares: social, econômico e ambiental.
Mas como seria então esse papel formativo?
O papel formativo seria no sentido de educar o usuário a um novo estilo de vida para uma futura sociedade sustentável por meio do design e consumo de produtos, serviços e sistemas coerentes com essa nova qualidade de vida.
Se pudéssemos visualizar uma ponte entre a sociedade atual e aquela que queremos para o futuro, uma sociedade sustentável, poderíamos dizer que ainda estamos no começo da ponte. O design é a disciplina que vai fazer a ligação, a ponte entre o sistema antigo e o sistema novo de produção e consumo.
Esse papel social-formativo aumenta mais ainda a responsabilidade do designer, já que somos construtores de realidades materiais e ditamos as regras de como a sociedade deve consumir, construindo e/ou destruindo estilos de vida.
Acontecerá um novo processo de aprendizagem inevitável se queremos com sucesso atingir essa sociedade mais sustentável, portanto devemos aprender a produzir e consumir de uma nova maneira.
Um processo gradual de mudança na sociedade em que essa aprendizagem será pela prática do consumo. É essencial que o atual processo de consumo seja re-aprendido. Seria um processo da sociedade se reajustando às novas atitudes, valores e crenças relacionadas ao meio ambiente.
Porém, na corrida para alcançar e praticar consumo sustentável, não deve ser esquecido o atual consumo não-sustentável, que deve ser estudado e entendido para uma posterior implementação do consumo sustentável.
A ênfase no consumo acontece porque o Manzini acredita que o aspecto mais difícil para atingir uma sociedade sustentável é mudar a atitude do consumidor, já que essa atitude é um estilo de vida individual produto de experiências, opiniões pessoais e abarca a população de bilhões de pessoas no mundo.
Por outro lado, mudanças em aspectos de design e tecnologia são mais fáceis, pois, envolvem objetivos e resultados factuais, dentro de um ambiente industrial de mudança e inovação regido por normas meio ambientais, mas mencionar consumo levanta outra questão, a sustentabilidade deve ser consumida para ser aprendida?
E, nesse caso, quem não tem poder econômico de consumo como aprende essa sustentabilidade? Consumi-la seria comprar a experiência de um produto, serviço ou sistema sustentável.
Mais uma vez, apenas os que podem consumir terão direito a uma sociedade sustentável, como acontece hoje em dia? Há um risco real de ter uma elite ecológica mundial, mas não exercer a sustentabilidade iria contra a natureza dela, uma sociedade justa e igualitária para todos.
Podemos definir consumo como a nossa relação com a cultura e entorno material. O que está claro é que a nossa relação com a cultura material é doentia e, esse caminho para a sustentabilidade seria uma maneira de corrigir essa relação. A questão “Por que consumimos o que consumimos?” é, hoje, um dos temas mais importantes no campo de estudo do comportamento do consumidor.
Para isso Ezio Manzini acredita que três elementos devem mudar, a estrutura social, o comportamento do consumidor e a aceitação cultural.
Podemos citar também a ideologia, que pode ser definida como um conjunto de crenças e valores, cada pessoa teria a sua ideologia própria formando um padrão de consumo individual.
Portanto, a estrutura social, sofrendo pressões de responsabilidade social e de cidadania, além de preocupações ambientais, sociais e econômicas, conduziria a uma mudança de ideologia em que a nova ideia de sustentabilidade começaria a fazer parte desse conjunto de crenças e valores, e então recriando um novo padrão de consumo mais amigável com o meio ambiente e preocupado com questões sociais e econômicas.
A aceitação cultural também é importante, o consumo de produtos sustentáveis ou ecológicos deve trazer ao consumidor um status cultural, de diferenciação como começa acontecer hoje.
A sociedade sustentável acontecerá um dia, e nós designers temos um papel vital nessa transição, configurando um novo mundo e mudando padrões de consumo e estilos de vida para que sejam coerentes com essa nova realidade.
Marcio Dupont é designer de produto e especialista em consumo sustentável.
Perfil: http://flavors.me/maduca
Compartilhe
Comentários (2)
Enquanto a sustentabilidade for encarada de forma restrita, acreditando que ela está apenas relacionada às questões econômicas e ambientais, atingir a sociedade sustentável será mais difícil. É importante lembrar que não é a maior parcela da sociedade que tem acesso à carros elétricos, eco-eletrodomésticos, etc… A sustentabilidade transcende à essas questões, deve estar presente em TODOS os âmbitos sociais, educação, cultura, moradia….
[…] http://www.bdxpert.com/2010/11/25/o-papel-social-do-designer-para-uma-sociedade-sustentavel/ […]