O papel social do designer para uma sociedade sustentável

Postado em: 25 / 11 / 2010

 

Márcio Dupont, colunista do BDxert

Márcio Dupont, colunista do BDxert

Márcio Dupont
  
Ezio Manzini, famoso designer italiano, levanta uma importante questão: Qual seria o papel do designer na atual transição para uma sociedade sustentável?

Ele define o papel do designer, em um contexto mais global, afirmando que  seu papel é construir cenários para estimular a discussão  e a inovação, ajudando na regeneração dos aspectos sociais e ambientais da sociedade. Ele acrescenta que o design tem um papel formativo, educativo que ajudará à sociedade a ajustar-se a uma nova realidade. A definição mais recente do termo sustentável é qualidade de vida apoiada nos três pilares: social, econômico e ambiental.

Mas como seria então esse papel formativo?

O papel formativo seria no sentido de educar o usuário a um novo estilo de vida  para uma futura sociedade sustentável por meio do design e consumo de produtos, serviços e sistemas coerentes com essa nova qualidade de vida.

Ezio Manzini

Ezio Manzini

Se pudéssemos visualizar uma ponte entre a sociedade atual e aquela que queremos para o futuro, uma sociedade sustentável, poderíamos dizer que ainda estamos no começo da ponte. O design é a disciplina que vai fazer a ligação, a ponte entre o sistema antigo e o sistema novo de produção e consumo.

Esse papel social-formativo aumenta mais ainda a responsabilidade do designer, já que somos construtores de realidades materiais e ditamos as regras de como a sociedade deve consumir, construindo e/ou destruindo estilos de vida.

Acontecerá um novo processo de aprendizagem inevitável se queremos com sucesso atingir essa sociedade mais sustentável, portanto devemos aprender a produzir e consumir de uma nova maneira.

Um processo gradual de mudança na sociedade em que essa aprendizagem será pela prática do consumo. É essencial que o atual processo de consumo seja re-aprendido. Seria um processo da sociedade se reajustando às novas atitudes, valores e crenças relacionadas ao meio ambiente.

Electrolux Green Range Concept Vac produzido com plástico do mar

Electrolux Green Range Concept Vac, aspiradores produzidos com plástico recolhido do mar

Porém, na corrida para alcançar e praticar consumo sustentável, não deve ser esquecido o atual consumo não-sustentável, que deve ser estudado e entendido para uma posterior implementação do consumo sustentável.

A ênfase no consumo acontece porque o Manzini acredita que o aspecto mais difícil para atingir uma sociedade sustentável é mudar a atitude do consumidor, já que essa atitude é um estilo de vida individual produto de experiências, opiniões pessoais e abarca a população de bilhões de pessoas no mundo.

Por outro lado, mudanças em aspectos de design e tecnologia são mais fáceis, pois, envolvem objetivos e resultados factuais, dentro de um ambiente industrial de mudança e inovação regido por normas meio ambientais, mas mencionar consumo levanta outra questão, a sustentabilidade deve ser consumida para ser aprendida?

E, nesse caso, quem não tem poder econômico de consumo como aprende essa sustentabilidade? Consumi-la seria comprar a experiência de um produto, serviço ou sistema sustentável.

Mais uma vez, apenas os que podem consumir terão direito a uma sociedade sustentável, como acontece hoje em dia? Há um risco real de ter uma elite ecológica mundial, mas não exercer a sustentabilidade iria contra a natureza dela, uma sociedade justa e igualitária para todos.

Volt, carro elétrico da Chevrolet, aponta para futuro dos carros sustentáveis

Volt, carro elétrico da Chevrolet, aponta para futuro dos carros sustentáveis

Podemos definir consumo como a nossa relação com a cultura e entorno material. O que está claro é que a nossa relação com a cultura material é doentia e, esse caminho para a sustentabilidade seria uma maneira de corrigir essa relação. A questão “Por que consumimos o que consumimos?” é, hoje, um dos temas mais importantes no campo de estudo do comportamento do consumidor.

Para isso Ezio Manzini acredita que três elementos devem mudar, a estrutura social, o comportamento do consumidor e a aceitação cultural.

Podemos citar também a ideologia, que pode ser definida como um conjunto de crenças e valores, cada pessoa teria a sua ideologia própria formando um padrão de consumo individual.

Carro elétrico Volkswagen E-Up, que será lançado em 2013, reforça o mercado dos carros sustentáveis

Carro elétrico Volkswagen E-Up, previsto para 2013, reforça o mercado dos carros sustentáveis

Portanto, a estrutura social, sofrendo pressões de responsabilidade social e de cidadania, além de preocupações ambientais, sociais e econômicas, conduziria a uma mudança de ideologia em que a nova ideia de sustentabilidade começaria a fazer parte desse conjunto de crenças e valores, e então recriando um novo padrão de consumo mais amigável com o meio ambiente e preocupado com questões sociais e econômicas.

A aceitação cultural também é importante, o consumo de produtos sustentáveis ou ecológicos deve trazer ao consumidor um status cultural, de diferenciação como começa acontecer hoje.

A sociedade sustentável acontecerá um dia, e nós designers temos um papel vital nessa transição, configurando um novo mundo e mudando padrões de consumo e estilos de vida para que sejam coerentes com essa nova realidade.   

 

Marcio Dupont é designer de produto e especialista em consumo sustentável.

Perfil: http://flavors.me/maduca

 

 

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Comentários (2)

 

  1. Augusto Leal disse:

    Enquanto a sustentabilidade for encarada de forma restrita, acreditando que ela está apenas relacionada às questões econômicas e ambientais, atingir a sociedade sustentável será mais difícil. É importante lembrar que não é a maior parcela da sociedade que tem acesso à carros elétricos, eco-eletrodomésticos, etc… A sustentabilidade transcende à essas questões, deve estar presente em TODOS os âmbitos sociais, educação, cultura, moradia….

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