Rio 2016: Designers consideram tese de plágio secundária

Postado em: 17 / 01 / 2011

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Maria Edicy Moreira

Muito já se comentou sobre os resultados da marca (ou logomarca como alguns preferem) da Olimpíada Rio 2016. Falou-se de possível plágio, de semelhanças com marcas existentes no Brasil e no exterior, e por aí vai. Nós do BDxpert também já publicamos uma reportagem falando dos comentários sobre um possível plágio e das semelhanças com outras marcas e abordamos ainda o processo de desenvolvimento da marca, apresentando até um vídeo esclarecedor da Tátil (Veja a íntegra da reportagem http://tiny.cc/wyfv8)

A verdade é que o debate democrático mesmo que seja – “Falem mal, mas falem de mim” – contribui para o enriquecimento do mercado de design. E, neste momento nada mais enriquecedor do que ouvir a palavra de quem mais entende do assunto, os designers.

Por isso, o BDxpert convidou um grupo de designers de extrema competência e idoneidade para expressar sua opinião sobre marca da Olimpíada Rio 2016. Você vai conhecer a seguir as opiniões de Felipe Garcia, sócio do FF Design Studio; Hugo Kovadloff, diretor de criação do GAD Branding; Giovanni Vanucchi, sócio da Oz Design; Mário Verdi, sócio da Verdi Design, e Valéria Midena, sócia-diretora do GattoNero Design Studio.

Os autores dos comentários são unânimes nos elogios ao processo de seleção democrático e criterioso feito pelo COB (Comitê Olímpido Brasileiro), em parceria com o COI (Comitê Olímpico Internacional),  na hora de escolher a agência a ser contratada para desenvolver a marca.

As críticas sobre um possível plágio e semelhanças com outras marcas não parece relevante para os designers, que elogiaram a competência da Tátil e a qualidade da marca, embora alguns critiquem detalhes do resultado final.

Veja a seguir a íntegra dos comentários:

 

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Felipe Garcia

O trabalho de design muitas vezes não requer explicação

 

Daqui a cinco anos o Brasil receberá o maior evento do planeta, os Jogos Olímpicos de 2016. O evento não é somente um acontecimento que entrará para a história do país, mas mostrará ao mundo o que possuímos de melhor, seja nos esportes, seja no desenvolvimento sócio-cultural, político e tecnológico.

O design abrange todos esses pontos acima relacionados e com isso nossa profissão e nossa percepção do bom design evolui constantemente, portanto, será nossa grande chance de mostrar ao mundo o quanto evoluímos profissionalmente para gerarmos essa maravilhosa brasilidade em nossos trabalhos.

Começamos e muito bem pelo excelente processo democrático e criterioso feito pelo COB para a escolha da agência que iria desenvolver a marca da Olimpíada, que por sinal, foi muito bem escolhida, a Tátil, uma agência madura e competente que proporcionou a nós brasileiros uma das poucas experiências de tridimensionalidade bem executada de marcas que deram certo no Brasil. Fizeram a “cara” do Brasil, as cores, o movimento e o mais importante a essência.

Todos os rumores que estão por trás da marca e especulações quanto às suas semelhanças com outras já existentes fica pequeno frente ao grande trabalho de investigação, de pesquisa e de imersão que foi realizada pela Tátil. O design não é apenas o resultado de um desenvolvimento, e sim o processo.

Todo o trabalho é acompanhado de uma história, de um passado embasado em um conceito. O trabalho de design muitas vezes não requer explicação e, isso é o que a marca Rio 2016 nos passa, o Brasil está ali representado pelas suas curvas, cores e miscigenação. A marca “fala” por si só, agora temos que vivenciá-la e não tentar entendê-la.

 

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Giovanni Vannucchi

Sinto falta de um componente maior de esporte e competitividade

 

Considero o desenvolvimento de uma marca um dos mais complexos projetos de design. Como sintetizar diversos atributos e valores em uma única imagem, criando uma identidade forte e única?

O que dizer então da marca da Olimpíada. Que símbolo poderia representar os valores de uma cidade, de um país, de esportividade, de competição, de confraternização, de tradição, de contemporaneidade etc., etc., etc.? No último dia de 2010 tivemos a oportunidade de conhecer como a Olimpíada do Rio 2016 será representa.

Antes de tudo vale ressaltar a grande diferença entre os processos de escolha das marcas dos principais eventos esportivos que o país sediará nos próximos anos.

A marca da Copa do Mundo de 2014 foi escolhida de maneira pouco clara, por meio de uma seleção que ninguém sabe como ocorreu, por um júri de “notáveis” da mídia, com raras exceções, sem nenhum conhecimento técnico.

O processo de escolha da marca da Olimpíada Rio 2016 deixou claro, desde o início, que seria rigorosamente técnico e profissional. Os resultados dos dois concursos espelham essas diferenças.

Enquanto a marca da Copa 2014 é absoluta unanimidade em desaprovação, seja popular, seja pelos designers, é inegável o resultado altamente profissional da marca da Rio 2016. Análises, críticas e opiniões divergentes sempre haverá, mas está claro que o resultado reflete um profundo e qualificado trabalho de design.

Pessoalmente, sinto falta na marca vencedora de um componente maior de esporte e competitividade. O foco na confraternização, amizade, união acabou deixando em segundo plano esses dois elementos fundamentais em uma marca da Olimpíada.

Também sinto que a marca é um pouco complexa do ponto de vista de desenho o que, imagino, dificulte sua apropriação pela população em geral tal como ocorreu com a marca do IV Centenário, de Aloísio Magalhães, que os cidadãos desenharam por toda a cidade.

Uma das grandes qualidades da marca é a solução tipográfica: original, bem desenhada, com o espírito absolutamente adequado aos atributos desejados.

E, finalmente, a grande diferenciação e o valor da marca Rio 2016: a possibilidade de sua tridimensionalidade, permitindo um universo de aplicações riquíssimo para um evento desta natureza.

Quanto à sugestão de plágio? Bobagem. Em um mundo com milhões de imagens disponíveis em um único clique, sempre haverá alguém sugerindo que determinada marca é similar a algo já existente.

Um profissional não se conhece por um único trabalho e a trajetória da Tátil no design brasileiro invalida quaisquer especulações desse tipo.

Sucesso à Olimpíada Rio 2016!

 

Foto-Hugo Hugo Kovadloff

A Tátil foi a vencedora, mas a vitória é de todos nós

 

Depois de ler e ouvir nestas duas últimas semanas matérias e comentários sobre a marca Rio 2016, em que muito se falava de plágio, similaridade com outras marcas etc. pensei que como participante do processo organizado pelo COB poderia contribuir com outro ponto de vista.

O ponto de vista de todo o processo, que liderado pelo Comitê Olímpico Brasileiro foi elogiado, desde a primeira reunião, pela grande maioria das 139 empresas que se apresentaram para o processo que iria selecionar a marca dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Nós do Gad inclusive.

O comitê Organizador contou com o apóio de importantes associações de classe como Abedesign, ABAP- Associação Brasileira das Agências de Propaganda, entre outras.

O processo se desenvolveu através varias fases. Todas elas com prazos de entrega rigorosamente respeitados. O comitê organizador trouxe para as reuniões de Briefing figuras internacionais de destaque e expertise comprovados em mega eventos esportivos.

Profissionais que participaram dos projetos de marca e identidade dos Jogos de Inverno de Salt Lake City e Olimpíada de Atenas compartilharam suas experiências com as empresas participantes. A comissão julgadora contou com a participação de reconhecidos designers e consultores de marketing e marca do Brasil e do exterior.

Para fechar esta minha participação a convite de Maria Edicy, trago aqui as palavras do presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016.                          Ele esperava que esta oportunidade fosse um marco na história do design brasileiro e deixasse um legado permanente para o desenvolvimento da área no país.

Tenho certeza de que isso aconteceu e que todos os que vivemos pelo design do Brasil, ganhamos com esta oportunidade. A Tátil teve a alegria de ser a empresa vencedora, mas a vitória é de todos nós.

 

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Mário Verdi

A logomarca da 2016 utiliza estilo gráfico considerado “modismo”  

 

Muito já foi falado sobre a semelhança da logomarca da Olimpíada Rio 2016 com outras logomarcas nacionais e internacionais. Pode ter sido mera coincidência. Isso não interessa. O que interessa é falar sobre o resultado do que foi criado e o que ele representa.

Uma das razões pela qual essa logomarca se parece com muitas outras coisas já vistas, deve-se à utilização de um estilo gráfico que pode ser considerado “modismo”.

Isso faz com que desenhos semelhantes estejam sendo desenvolvidos neste exato momento em diversas partes do mundo, não necessariamente tendo como referência ou “inspiração” algum desenho já visto. Algo como a febre do Swoosh da Nike. Algo como os carros asiáticos comparados aos europeus: não têm alma.

O desenho criado tende a agradar a maioria das pessoas, justamente por essa sua característica de Deja Vu. É bonitinho… redondinho e colorido. E ainda é 3D.

Achei pouca idéia por trás de muita alegoria. A idéia das pessoas abraçadas é utilizada em quase todos os “loguinhos” de programas de endomarketing do mundo! E também nas prefeituras Brasil afora. E o Pão de Açúcar para o Rio de Janeiro é como o laçador para os gaúchos: não aguentamos mais.

Não acho que o resultado venha comprometer, como é o caso da logomarca da Copa FIFA que é um fiasco. Mas acho que essa falta de alma do símbolo criado, fará com que ele se torne absolutamente perecível. Essa logomarca tem prazo de validade curtíssimo. Talvez já esteja velha antes do início da própria Olimpíada.

Ps.: Defendo o uso da palavra logomarca como neologismo para definição do conjunto logotipo + sinal gráfico ou símbolo. Esta palavra foi absorvida e adotada pelo povo que fala nossa língua e facilita o entendimento da comunicação entre designers e o público em geral. A língua é viva e é construída pelo povo, não por conservacionistas de plantão.

 

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Valéria Midena

Os comentários sobre coincidências gráficas parecem leviandades

 

“A marca da Olimpíada Rio 2016, lançada no último dia de 2010, na praia de Copacabana, deve ser motivo de orgulho e alegria para todos os brasileiros – e em especial para nós, designers.

Criada pela Tátil, empresa com forte atuação no mercado e reconhecida por sua competência e seriedade, foi a grande vencedora do concurso promovido pelo COB, do qual participaram 139 agências de publicidade e design.

E não é difícil entender o por quê. Dela fazem parte atributos que toda marca deveria aspirar. Completamente adequada ao briefing, é forte, elegante e altamente mnemônica.

Sua forma orgânica e sutil alia elementos arquetípicos (pessoas se abraçando em sugestão de movimento – daí o caráter universal que adquire) a outros absolutamente culturais e específicos (o Pão de Açúcar, elemento-síntese da cidade do Rio de Janeiro). E ainda integra a tridimensionalidade ao desenho, em um perfeito entendimento das possibilidades e necessidades da comunicação contemporânea e de todas as suas mídias.

Uma marca com tal abrangência evidentemente está sujeita a críticas desde o seu lançamento – e parece natural e saudável que profissionais da área comentem e analisem o resultado de uma concorrência tão importante. Feito com respeito e responsabilidade, esse debate contribui para a ampliação do conhecimento de todos e para o fortalecimento do mercado de design.

Os comentários sobre supostas coincidências gráficas e as especulações sobre possíveis “fontes de inspiração” da marca ou ainda, as insinuações de plágio, a mim parecem leviandades às quais sequer se deveriam dar atenção ou espaço.

Desprovidos de embasamento semiótico e de conhecimento específico, são “achismos” normalmente proferidos por aqueles que gravitam na periferia do mercado sério e profissional ao qual pertencem a Tátil Design e tantas outras empresas no Brasil.

Parabéns, Tátil! Parabéns, Rio 2016! Parabéns, brasileiros!

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Comentários (3)

 

  1. [...] A pedido de Maria Edicy Moreira, editora do portal BDxpert, eu e outros 4 designers gráficos fomos convidados a dar nossos respectivos depoimentos sobre a marca Rio 2016. O painel, bem interessante, revelou uma quase unanimidade nas avaliações dos profissionais: a marca é forte, competente e elegante – e as alusões a plágio, uma grande bobagem. Leia mais em http://www.bdxpert.com/2011/01/17/rio-2016-designers-consideram-tese-de-plagio-secundaria/ [...]

  2. bdxpert disse:

    Mário, você tem razão, a onda do logos com abraços está mesmo na moda. Veja a abertura da nova novela da Globo “Insensato Coração”, as esculturas se abraçando. A Tátil e o Hans Donner tinham objetivos diferentes, mas o resultado leva à mesma imagem, pessoas se abraçando.

  3. revolução disse:

    Hoje em dia se plagia tudo… No mundo globalizado de hoje, plagiar é permitido… textos acadêmicos, páginas da web, músicas, livros, revistas, jornais, projetos de arquitetura, design gráfico, produtos eletro-eletrônicos, brinquedos, bebidas, perfumes, joias, automóveis, caminhões. aviões, helicópteros, tanques, mísseis, etc., e por aí vai.
    Os russos, chineses e e indianos são os maiores copiadores e plagiadores do planeta, e é por isso que eles acabaram se tornando as maiores potências mundiais!!!

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