A evolução do CAD e as novas demandas dos usuários
Postado em: 31 / 05 / 2011
Stutz: Mouse e teclado são pré-históricos
Maria Edicy Moreira
“Tenho esperança de que depois da medida anunciada pelo governo para redução de impostos sobre a fabricação de tablets no Brasil, a Apple instale uma fábrica de iPad aqui, isso vai ser muito bom para a Autodesk. Hoje temos os softwares, mas o número de usuários de tablets é pequeno porque ele é muito caro. O iPad custa R$ 2.500,00, isso não é acessível”, afirma Jeferson Stutz, executivo de soluções da divisão de manufatura da Autodesk para a América Latina. Nota da redação: No site da Apple o iPad 2 custa entre R$ 1.649,00 e R$ 2.599,00.
Em entrevista ao BDxpert Stuz falou ainda das vantagens da Internet para os usuários de CAD que hoje permitem trabalhar de forma colaborativa, possibilitando que empresas como a Apple, cliente da Autodesk, trabalhe com engenharia simultânea: design na Califórnia e manufatura na China.
Sobre a evolução do CAD o executivo manifestou seu desejo de que o teclado e o mouse desapareçam do mundo do CAD. “Para o futuro imagino o usuário de CAD fazendo gestos que vão se transformar em comandos.” Também Stutz observou que a classificação dos sistemas CAD em: low end, mid range e high end está desaparecendo.
As novas necessidades dos usuários de CAD também foram comentadas por Stutz. “Primeiro era a migração da prancheta para o CAD 2D, depois para o CAD 3D, hoje o usuário quer uma solução completa, temos clientes que desenvolvem projetos civis, mecânicos, tubulações industriais, máquinas, tudo isso conjugado, eles querem uma solução para conectar todas essas disciplinas.”
O especialista técnico da Autodesk, Juan Carlos Alfonso, que acompanhava Stutz, confirma a nova necessidade dos usuários que querem ir além das geometrias 2D e 3D, buscam soluções para melhorar a apresentação dos seus projetos e também querem softwares que ofereçam interoperabilidade entre diferentes disciplinas.
Veja a seguir a íntegra da entrevista com Jeferson Stuz e Juan Carlos:
BDxpert – O que você espera do uso do CAD nos dispositivos móveis?
Jeferson Stutz – Tenho esperança de que, depois da medida anunciada pelo governo para redução de impostos sobre a fabricação de tablets no Brasil, a Apple instale uma fábrica de iPad aqui, isso vai ser muito bom para a Autodesk. Hoje temos os softwares, mas o número de usuários de tablets é pequeno porque, ele é muito caro, R$ 2.500,00, isso não é acessível. Hoje você compra um notebook por menos de R$ 1.000,00, o ideal é que o tablet seja mais barato que o notebook ou que o preço seja no máximo igual ao do notebook. Aí o acesso à tecnologia vai ser muito maior.
- iPad 2, que ainda está longe do alcance do poder aquisitivo dos brasileiros
Jeferson Stutz – Hoje é possível trabalhar de forma colaborativa. Nossos clientes, a Apple, por exemplo, trabalha com engenharia simultânea: design na Califórnia e manufatura na China. Como é que alguém vai trabalhar de forma colaborativa convivendo com uma distância gigante dessas, se não tiver a Internet e softwares para sincronizar os projetos? O chão de fábrica de uma montadora ou indústria de máquinas, por exemplo, necessita ter acesso às informações em distintos lugares da linha de produção. Por isso, hoje a maioria dos desenvolvedores de software tem soluções para se trabalhar de forma colaborativa. As soluções Autodesk Vault Collaboration e Vault Professional são softwares que permitem aos usuários acessar os dados em bases que sincronizam as informações.
BDxpert – Como você vê o futuro do CAD?
Jeferson Stutz – Meu sonho é de que duas coisas saiam de cena: o teclado e o mouse. Quando a gente tiver um CAD sem teclado e sem mouse vou ser muito feliz. Esses dois acessórios são a coisa mais pré-histórica que se tem na informática, mas não surgiu nada mais produtivo. A Autodesk tem investido forte em tecnologias multitouch, temos até softwares que foram desenvolvidos para crianças no iPad iOS. Para o futuro imagino o usuário de CAD fazendo gestos que vão se transformar em comandos.
BDxpert – Como você definiria o CAD hoje?
Jeferson Stutz – Ferramenta essencial que representa o sucesso ou a falha em um projeto. Hoje a indústria não vai reduzir os custos de seus produtos se não desenvolver seus projetos no CAD. Como ela vai fazer os testes? Se não tiver o CAD ela vai ter que criar protótipos físicos e gastar muito além do que foi planejado, vai perder tempo com ordens de alteração de engenharia. A diferença entre usar ou não uma solução CAD em manufatura e alcançar o sucesso ou falhar.
BDxpert – Qual o maior salto que o CAD deu nos últimos 25 anos?
Jeferson Stutz – Uma das mudanças é que não existe mais aquela classificação: CAD low end, mid range e hight end (softwares para iniciantes, médios e grandes usuários, respectivamente). Hoje os fornecedores de software hight end querem vender para os usuários iniciantes e os fornecedores de softwares que eram chamados low end querem vender para os grandes usuários. Acabou essa classificação.
Outra coisa é a evolução do hardware. Antigamente pagávamos 100 mil dólares em uma máquina para rodar um CAD e era sofrível. Trabalhar com um desenho simples levava 2 horas para processar, hoje nesse tempo a gente faz análise de uma máquina.
A usabilidade era muito difícil porque o sistema operacional era limitado. Hoje o CAD tenta adivinhar o que o usuário quer e o próprio sistema operacional tem uma inteligência que facilita a vida do usuário.
A cultura do CAD popularizou, os meios de comunicação evoluíram, a Internet ajudou muito. O uso CAD está mudando também no ensino. Antigamente tinha professores que não aceitavam um trabalho acadêmico feito em CAD, hoje o CAD faz parte do ensino.
BDxpert – Quais são as estratégias da Autodesk para o Brasil?
Jeferson Stutz – Estamos investindo em marketing, canal, equipes e estamos muito confiantes com relação ao mercado de manufatura no Brasil. No ano passado tivemos uma retração na indústria e mesmo assim a Autodesk teve um crescimento de dois dígitos. A crise para nós é um bom negócio porque quando a indústria tem baixa produtividade ela nos chama para reduzir custos de projetos, acelerar a produção ou fazer reengenharia. O brasileiro se acostumou a não ser volátil às crises, às bolsas, ao carnaval e ao final de ano. Hoje temos uma indústria sólida que já não depende só da Petrobras e da Vale. Alguns setores como a indústria de moldes estão em queda, perdendo concorrência para a China, porque não está preparada para competir, então essa indústria necessita passar por uma modernização, assim como a indústria do calçado e a indústria têxtil já passaram.
Juan Carlos Alfonso: Usuários mudaram
BDxpert – O que os usuários estão pedindo?
Jeferson Stutz – O que os clientes pedem hoje é uma solução completa. Não recebemos mais um pedido: Eu quero modelar tal peça. –Primeiro era a migração da prancheta para o CAD, depois para o CAD 3D. Hoje o usuário quer uma solução completa, temos clientes que desenvolvem projetos civis, mecânicos, tubulações industriais, máquinas, tudo isso conjugado e querem uma solução para conectar todas essas disciplinas. É uma evolução muito grande, isso exige mão de obra especializadíssima e todos os fornecedores de software estão entrando nesse novo patamar de fornecimento de tecnologias para prototipagem digital. Na Autodesk estamos adotando o conceito de suítes oferecendo uma solução completa que atende a todas as necessidades do usuário de forma integrada e em um único pacote de softwares.
Juan Carlos – Há 10 ou 15 anos as pessoas procuravam o CAD para fazer modelagem, quando visitávamos uma empresa a preocupação do cliente era conseguir fazer geometrias em 2D ou 3D. Essas necessidades mudaram. Agora temos concorrência global e, as perguntas dos clientes são: Já consigo trabalhar em 3D, o que mais posso fazer agora? Ele pode integrar o projeto com outras disciplinas, com o chão de fábrica. Eles querem melhorar a apresentações dos projetos. Outro requerimento dos clientes tem a ver com interoperabilidade. Vamos imaginar uma estrutura de mineração ou óleo e gás. Uma indústria fabrica uma máquina e a entrega ao seu cliente que, além de operá-la, vai precisar fazer a manutenção do equipamento utilizando as informações digitais do projeto para atender ao seu processo com uma finalidade diferente. A Autodesk está oferecendo uma solução integrada para atender a todas essas necessidades.
