Meu Pedacinho de Chão dá show de criatividade em design e artes

Postado em: 27 / 04 / 2014

A inspiração para a criação da abertura da novela veio dos mangás japoneses, videogames e animações

A inspiração para a criação da abertura da novela veio dos mangás, videogames e animações

Maria Edicy Moreira

A novela Meu Pedacinho de Chão, que estreou no dia 7 de abril de 2014 na TV Globo, dá um show de criatividade e imaginação que vai muito além do texto escrito pelo autor Benedito Ruy Barbosa e da atuação dos atores e atrizes, ambos feitos com maestria. Estou falando da criatividade nas áreas de arquitetura, ilustração, artes plásticas, animação e design gráfico, de moda e de produto que aparece na caracterização dos personagens e em toda a vila de Santa Fé.

Casas, objetos, animais, figurino e muitos outros detalhes que ornam os cenários e a caracterização dos personagens como a maquiagem e os cabelos coloridos enchem os olhos de quem se dispõe a sentar em frente à TV para curtir mais uma obra do Benedito Ruy Barbosa, que adora ambientar suas novelas no universo rural e caipira do Brasil e agora nos traz uma fábula sertaneja.

Toda essa criatividade, construída com uma paleta rica em cores fortes em clima colorido e divertido, saiu do imaginário do artista plástico e diretor de arte Raimundo Rodriguez, do produtor de arte Marco Cortez e do cenógrafo Keller Veiga, que lideraram um exército de artesãos, ilustradores, animadores entre outros profissionais que ajudaram o trio criativo a concretizar suas ideias e dar vida à vila de Santa Fé e aos personagens de meu Pedacinho de Chão. Tudo foi feito sob a batuta do diretor da novela, Luiz Fernando Carvalho, que participou ativamente do processo criativo.

Cada casa tem sua própria cor, sua própria personalidade e seu próprio desenho

Cada casa tem sua própria cor, sua personalidade e seu próprio desenho combinando com o morador

A criação da vila de Santa Fé e a caracterização dos personagens foram inspiradas no imaginário de uma criança, no caso o Serelepe (Tomás Sampaio) que, como próprio nome diz é um menino serelepe que circula por toda a cidade e permeia as histórias com sua imaginação fértil. O personagem lembra um pouquinho o principezinho do livro “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, já que não tem pai, nem mãe, nem casa e ninguém sabe de onde veio.

Veja o que diz Raimundo Rodriguez sobre a criação do mundo de Serelepe: “A gente tentou entrar no universo do Serelepe buscando referência nos brinquedos de lata. Tudo tem uma forma lúdica e colorida. É um mundo mágico, uma fábula… É surreal, ancestral, atemporal… Essas coisas que a gente gosta de fazer e que nos deram toda liberdade de criação e atuação. É uma cidade toda feita de obras de arte”, explica Rodriguez.

O protagonista Serelepe e sua  amiga Pituca são personagens marcantes na novela

O protagonista Serelepe e sua amiga Pituca circulam sempre juntos  por toda a  vila de Santa Fé

A inspiração para a criação da abertura da novela veio dos mangás japoneses, videogames e animações, elementos que ajudaram a representar o mundo mágico de Santa Fé visto pelos olhos de Serelepe. A equipe responsável pela produção da abertura combinou técnicas de videogames com imagens em 3D e ilustrações em 2D criando uma narrativa visual em que os elementos gráficos  se formam e transformam de acordo com a relação de Serelepe com cada um deles.

A cidade cenográfica criada pelo cenógrafo Keller Veiga e Raimundo Rodriguez é outro atrativo que desperta a imaginação dos amantes das fábulas que compõem Meu Pedacinho de Chão. A proposta do diretor da novela, Luiz Fernando Carvalho, foi criar a vila de Santa Fé a partir do olhar das crianças Serelepe (Tomás Sampaio) e sua amiga inseparável, Pituquinha (Geytsa Garcia).

A execução das ideias ficou por conta do cenógrafo Keller Veiga, juntamente com o artista plástico Raimundo Rodriguez e o produtor de arte Marco Cortez. “A vila Santa Fé é um lugar que contém todos os lugares da imaginação do Serelepe. A cidade é um brinquedo com outros brinquedos dentro”, diz Keller.

Ele elaborou os primeiros esboços de ocupação do terreno de aproximadamente 8 mil metros quadrados no qual colocou 28 construções entre igreja, comércio, casas dos personagens e a estação de trem. Tudo entrecortado pela linha férrea. As portas e janelas bem pequenas ajudam a transmitir a sensação de uma cidade em miniatura, “de brinquedo”.

Torre da igreja recoberta de lata e árvore com tronco e galhos  recobertos com crochê colorido

Torre da igreja recoberta de lata e árvore colorida se destacam no cenário da vila de Santa Fé

Buscando referências nos brinquedos do século XIX, o diretor Luiz Fernando Carvalho decidiu que todas as construções seriam recobertas de lata. Nessa etapa entraeam em cena Raimundo Rodriguez e um exército de artistas, artesãos e operários, que sob o seu comando, fizeram a cobertura de todas as superfícies das casas: telhados, paredes, portas, janelas… “Foram usadas cerca de 20 toneladas de latas de tinta abertas, dobradas, marteladas, planificadas, cortadas e pigmentadas”, conta Raimundo.

Cada casa criada por ele tem sua própria cor, sua própria personalidade e seu próprio desenho, elementos que ajudam a estabelecer a relação das casas com os personagens. “Se você olhar, não tem uma parede igual à outra, não tem uma casa igual à outra, não tem uma cor igual à outra, tudo é muito original para cada casa. É um conto de fadas surreal, ancestral, atemporal”, explica Raimundo.

Ao produtor de arte Marco Cortez coube a tarefa de dar vida ao interior das casas: residenciais e comerciais, igreja, escola etc. Ele garimpou objetos do final do século XIX e início do XX em antiquários ou criou réplicas: Na casa do Epaminondas (mais conhecido como Epa), personagem que ostenta dinheiro e poder, os objetos são mais luxuosos e opulentos .

“Há muita porcelana, quadros, obras de arte e peças de cama, mesa e banho feitas com materiais nobres como seda e rendas elaboradas, mas também há cortinas de plástico adquiridas no Saara (zona de comércio popular do Rio de Janeiro). Há também um acúmulo muito grande de papeis, escrituras, livros caixa, que representam a necessidade de controle e a avareza do Epa”, explica Cortez.

Venda do Giácomo (Antonio Fagundes) esbanja detalhes épicos como a caixa registradora antiga

Venda do Giácomo (Antonio Fagundes) traz detalhes épicos como a caixa registradora e os rolos de papel

 

Os animais que aparecem em Meu Pedacinho de Chão merecem um capítulo à parte. O galinho Bené, que marcou presença nas chamadas para o lançamento da novela e de vez em quando ressurge em momentos importantes da novela, foi idealizado pelo próprio diretor da novela Luiz Fernando Carvalho para homenagear o autor Benedito Ruy Barbosa: “Não há nada mais emocionante do que estar à frente do Benedito e ouvir seus ‘causos’ e histórias”, afirma o diretor.

Ele explica que a fluidez da narrativa oral que o autor transpõe magistralmente para as rubricas e exclamações de seus personagens não são palavras escritas para serem ditas, pertencem ao texto apenas no sentido de orientar o tom certo para os atores e a direção. A partir dessa percepção Luiz Fernando decidiu criar o galinho Bené para homenagear essa fluidez da linguagem encontrada nos textos e o próprio autor, oferecendo estas rubricas também aos telespectadores.

O galinho Bené que marcou presença nas chamadas para o lançamento da novela e de vez em quando ressurge em momentos importantes da novela foi idealizado pelo próprio diretor da novela Luiz Fernando Carvalho

Galinho Bené idealizado pelo diretor da novela Luiz F. Carvalho homenageia Benedito Ruy Barbosa

Para animar o galinho Luiz Fernando optou pela técnica de animação stop motion (técnica de animação quadro a quadro) e convidou dois craques para criar as imagens, César Coelho e Pedro Iuá, dupla que entende do riscado. César Coelho é um dos fundadores do festival Anima Mundi e foi diretor de animação das duas temporadas da minissérie “Hoje é Dia de Maria” (2005) e da série “Afinal, o que Querem as Mulheres?” (2010); Pedro Iuá é dono de uma produtora de animação stop motion e já dirigiu um curta premiado no próprio festival Anima Mundi, chamado “Sushi man” (2003).

Apesar de ter sido animado com técnicas tradicionais de animação, o galinho Bené tem conexão com a moderna tecnologia dos celulares. Um aplicativo gratuito para celulares com Android ou iOS permite ao usuário receber alertas customizados de despertador – sendo um deles o canto do galo – e outros que avisam quando há uma cena imperdível na novela ou alguma informação importante.

Inspirado nos cavalinhos de carosséis o garboso cavalo de Zelão é todo articulado e aindda  caminha

Inspirado nos cavalinhos de carosséis o garboso cavalo de Zelão é todo articulado e aindda caminha

Outros animais, criados para a novela também chamam a atenção dos telespectadores. O mais garboso é o cavalo articulado do Zelão (Irandhir Santos). Inspirado nos cavalinhos de carrosséis o animal move as patas, o pescoço e abre e fecha os olhos. As galinhas coloridas e o carrossel de vacas também mexem com a imaginação dos telespectadores.

Obs.: As informações para escrever este post e as imagens foram coletadas no site oficial da novela Meu Pedacinho de Chão.

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